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sábado, janeiro 05, 2008

O KARATÊ HOJE


Apesar dos diversos estilos que são cada vez mais numerosos, podemos igualmente fazer uma distinção e subdividir o Karatê em três categorias.

Karate moderno
A partir de 1945 o Karatê se desenvolveu como um esporte. As técnicas foram adaptadas à exigência de vencer nas competições a todo custo. A integridade física dos contendores nos combates, foi protegida ao máximo com a eliminação das técnicas mais perigosas ou que possam favorecer situações de combate a curta distância, tais como ataques com mãos abertas, golpes baixos, agarres, trocas a curta distância e, muito recentemente com a introdução das luvas e dos protetores bucais. A filosofia do Karatê moderno não pode resumir-se em três palavras: ganhar a competição.



Karate tradicional
O Karate-Do desenvolveu-se durante a era Meiji (1868-1911), que trouxe, junto com a abolição do Shogunato (Governo militar que durava desde o séc. XIII), o abandono das artes marciais clássicas empregadas nos campos de batalha. É o Karatê em que se exalta a não competição onde se trabalha o esforço para uma melhora individual através do recíproco respeito. Os praticantes de karatê tradicional, sem dúvida, se vêm quase forçados a participar de competições mais ou menos violentas, nas quais se compete para vencer e nas que, com freqüência, o teórico respeito recíproco é substituído por uma menos altruísta exaltação do próprio ego. Conseguir ser completamente indiferente à vitória ou à derrota é uma empresa muito árdua que não pode-se improvisar.
No Karatê tradicional, em troca, se enfatiza a importância da prática dos katas, porém nisto, a perfeição do gesto recolocou a verdadeira compreensão do significado enquanto que o conhecimento não aprofundado de tantos katas substituiu a verdadeira compreensão de um só kata.

Sem dúvida que a prática dos katas tem um grande valor mesmo que não se compreenda o significado dos gestos realizados: é um trabalho insubstituível para poder aprender a educar nosso corpo a mover-se de maneira “não pensada”, utilizando os movimentos que chegam a ser depois de dezenas de anos de prática, espontâneos e adequados à necessidade do momento. Estes se caracterizarão pela estabilidade, velocidade de execução, tempo correto e perfeição da forma. Quem treina regularmente os katas não tardará a descobrir sua utilidade também como exercício mental, tanto quanto a atenção, a concentração e a autodisciplina necessárias para superar a si mesmo, são todos elementos indispensáveis para a progressão na “Via do Karatê”. O estudo poderá ser considerado completo quando se consegue aprofundar seu vínculo com a defesa pessoal; não permanecendo na superfície do significado gestual, mas tentando descobrir o que realmente queriam transmitir os mestres de outro tempo. Assim se poderá utilizar sua técnica depois de haver treinado até convertê-la em “não técnica”, para poder utilizá-la espontaneamente como resposta defensiva inconsciente em uma situação de defesa pessoal real.
Os velhos mestres chineses queriam manter estes conceitos quando afirmavam: “se usas a técnica, serás derrotado”.
Karate clássico
É o Karatê original. Um método de defesa que buscava a eficácia total em todas as formas de combate: a longa, média e curta distância. Nas escolas de outros tempos, nenhuma técnica, nenhum tipo de treinamento, nenhuma busca era descartada a priori. O praticante não aprendia somente a dar golpes (Atemi), mas também a executar projeções (Nage waza), chaves articulares (Kansetsu waza) e a luta corpo a corpo (Katame waza).
Se não nos detivermos às aparências, poderemos observar que a arte do Karatê clássico, apesar de ter como finalidade a defesa pessoal, tem na realidade um valor ético superior ao mesmo Karatê tradicional. Vejamos as razões. As técnicas contidas nos katas são interpretadas no Karatê clássico que, para entendermos, se desenvolveram antes de 1868, principalmente como manobras de luxações articulares: Kansetsu waza ou Tuite. Estas ações são formas superiores de autodefesa que se apresentam para dissuadir ao atacante de continuar sua ação, sem provocar um dano permanente, a menos que a situação o requeira. Resumindo: é mais simples e imediato dar um soco no nariz de nosso agressor provocando-lhe um sério trauma, que tentar dissuadir-lhe aplicando-lhe uma refinada técnica de Tuite..
Paradoxalmente, pode-se encontrar maior consideração pela integridade física do adversário e, em conseqüência, pelas eventuais implicações legais, no Karate-Jitsu que no Karate-Do, onde as boas intenções e os bons propósitos permanecem muito a miúdo confinados nas palavras do “Dojô Kun” (Conjunto de regras de conduta do bom praticante de Karatê) e são raramente postos em prática. .
O Karatê clássico de Okinawa é assim descrito pelo Mestre Oyata 10º Dan de Ryukyu Kempo: “O significado de mão vazia e também a pronúncia “Karatê” dada aos dois dos ideogramas (escrito em japonês: Kara (vazio) te (mão), não é correta. Creio que a correta pronúncia dos dois caracteres deveria ser “Kute”, originariamente chamado “TE”, é dizer mão; tal denominação se refere às mãos puras de um recém nascido. Se trata da arte de construir o caráter ideal do homem através da aprendizagem do uso correto das mãos. O uso correto das mãos protegem as vidas humanas, enquanto que o uso errado às destroem. O verdadeiro praticante de Kute utiliza uma mão para proteger-se a si mesmo e a outra para salvar ao próximo”. Outro mestre de Okinawa, o Mestre Konishi da escola Shinho Jinen Ryu, o sintetiza assim: “A verdadeira arte do Karatê consiste essencialmente em não golpear, não ser golpeado e não provocar”. Não é outra coisa senão um modo diferente de expressar o mesmo conceito atribuído a Funakoshi: “Conseguir cem vitórias em cem batalhas não é o máximo resultado possível; mas é conseguir vencer ao inimigo sem combater”.
Fonte: Livro "Karate desconhecido", de Enzo Montanari, Ed. Tutor.

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