Seguidores

sábado, fevereiro 16, 2013

terça-feira, maio 01, 2012

terça-feira, fevereiro 21, 2012

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

terça-feira, dezembro 13, 2011

sexta-feira, dezembro 09, 2011

quinta-feira, dezembro 08, 2011

segunda-feira, dezembro 05, 2011

sexta-feira, novembro 04, 2011

Qual é a finalidade de se praticar Karatê?

Cada pessoa tem sua própria finalidade, que pode ser desde o direcionamento da agresssevidade, segurança pessoal ou esporte, até apenas como um modo de vida.
Outros aplicam esforços visando alcançar certos objetivos físicos ou apenas para obtenção de uma certa graduação que, no seu modo de entender, seria o certificado de algumas capacidades.
Quando há constância na prática, (coisa que é para toda a nossa existência), ela nos permite fazer aflorar as nossas capacidades e, em consequência, vivenciar vitórias pessoais, proporcionando a elevação da nossa auto-estima.
Ao ingressarmos no Karatê, concedemos um voto de confiaça ao Sensei, ele em retribuição, nos corrige e orienta como se jamais fôssemos desistir ou abandonar o treino, porque sabe que com o passar do tempo e com a insistente prática, compreenderemos que o Karatê vai além da luta e então ficará mais fácil de entendermos como os valores enfatizados na prática podem ser empregados em cada momento da nossa vida de forma a enfrentar o trabalho, os estudos, as relações interpessoais e todos os tipos de obstáculos, com a serenidade originada na confiança de nossas capacidades desenvolvidas, que irão gerar o respeito por nós mesmos e pelos outros.
Por isso diz-se que o Karatê causa um modo de pensar que produz o desenvolvimento das virtudes necessárias para uma atuação social positiva, conduzindo-nos à aproximação, união, amizade, respeito para com nosso semelhante, disciplina e equilíbrio emocional, para com nós mesmos, em contribuição para a formação de um cidadão saudável nos aspectos físico, social e emocional e essa é uma indicação do desenvolvimento da maturidade interior.
Entretanto, apenas com a prática constante e perseverante, o Karatê deixa de ser uma “obrigação” e se torna parte da nossa vida, para o nosso próprio prazer pessoal e para nosso proveito futuro, uma  oportunidade  invejável para experimentarmos conhecer a nós mesmos e a beleza  que está nessa descoberta.
Essa é a finalidade... de resto é apenas praticar disciplina e persistência.
[Estivales]

sexta-feira, outubro 14, 2011

A continuidade no Karatê


Muitas são as razões porque os alunos abandonam as aulas de Karatê, mas eu arriscaria dizer que a razão maior e mãe de todas as outras, chama-se descaso ou falta de compromisso.
Geralmente as pessoas tomam uma atitude inicial em praticar Karatê, combatendo sua própria inércia e resistência, mas raramente o consideram importante ao ponto de anexá-lo ao seu tempo ou dedicar um espaço na sua vida só para ele.
O Karatê só funciona quando passa a fazer parte inexorável da rotina diária da pessoa, assim como se escova os dentes, se toma banho ou dorme, todos os dias. Com o tempo ele se torna um compromisso inseparável e inadiável na vida, assim como um alimento diário que se ingere sem esforço.
O mais difícil é se conseguir desenvolver o hábito de continuar cuidando de si a longo prazo, anos a fio, com perseverança e sem desistir, mas isso é a chave do sucesso. Não só para obter saúde e aptidão física e marcial, mas para se conseguir tudo o que se quer na vida e isso não é conseguido relegando-o a um segundo plano.
Mesmo assim, no período de férias, alguns alunos somem do Dojô e não se dignam nem em avisar ao seu Sensei. Ficam até três meses sem aparecer, e quando aparecem, nem mencionam ou concordam em acertar as mensalidades atrasadas.
Todos sabem que são os alunos que sustentam o Dojô, então quando alguém não concorda em acertar as mensalidades atrasadas, está diretamente sendo indiferente às necessidades do seu Dojô e do seu Sensei, que continua a ter seus compromissos vencidos normalmente (aluguel, água luz, anuidades da federação, taxas de cursos, deslocamentos para competições, etc. e, muitas vezes, com o próprio sustento da sua família). Essas obrigações são responsáveis pela própria continuidade do Dojô.
Os alunos devem compreender que o Dojô não é apenas uma academia de ginástica. O Dojô é um lugar onde pessoas além de aprenderem uma Arte Marcial, moldam o caráter e a personalidade. Um lugar em que se desenvolve uma defesa pessoal e se aumenta a segurança diante da vida. Onde se aprende disciplina, valor da moral, da palavra e ainda como bônus, uma Arte Marcial e isso os torna muito mais íntimos do Sensei do que de um professor comum de algum esporte.
Observe que quando as pessoas frequentam uma escola ou uma universidade particular, ou mesmo um clube social,  não deixam de pagar os meses que estão ausentes, então porque param de pagar o Dojô? Ninguém é obrigado a freqüentar um certo Dojô, mas aqueles que o procuram deveriam assumir um compromisso inexorável com ele. Aqueles que se recusam, deveriam procurar uma academia comercial, onde serão apenas clientes comuns.
Todo Sensei ensina que devemos prezar sempre pela lealdade e consideração, então o aluno que prevê que irá parar o seu treinamento durante um certo período de tempo, deveria avisar por escrito, pelo menos com três meses de antecedência e pagar a rematrícula quando retornasse.
Imaginem se todos os alunos entrassem em férias ao mesmo tempo e não pagassem as mensalidades, como o Sensei pagaria as despesas do Dojô neste período? Com certeza teria que fechar as portas e o prejudicado seria também o próprio aluno.
Pense bem nisso...
[Estivales]

terça-feira, outubro 04, 2011

O KIAI

“Kiai” em japonês significa “reunir a energia”. “KI” = Energia. “AI” = Unir. É uma característica indispensável do karatê.

Esse grito obtém-se pela contração rápida do diafragma, à qual sucede a emissão de um som seco. Não se trata, portanto, de um simples grito – o som vem do abdome e não da garganta.
O Kiai serve a três propósitos principais:
1º - Demonstrar disposição de combate. Ajuda a pôr o Karateka no estado psicológico ideal para o combate. Além disso, é valorizado ao nível da competição. Ou seja, mostra a todos, incluindo ao próprio emitente do kiai, a convicção nas ações que desempenha.
2º - Intimidar o oponente. Provoca hesitações no adversário que propiciam “aberturas” para atacar. Por curiosidade, verifica-se que existia uma arte marcial o “Kiai-Jutsu” que se baseava essencialmente na utilização do Kiai como forma de atordoar os oponentes.
3º - Contrair os músculos do tronco. Aumenta a potência dos golpes e também a resistência aos danos infringidos pelo oponente.
Como em tudo na vida, existem bons e maus “kiais”.
O Kiai é geralmente definido como um estranho poder adquirido por algumas pessoas envolvidas por forças místicas inexplicáveis. Contam-se histórias de homens que podiam paralisar ou mesmo matar pequenos animais com um grito de Kiai ou parar o adversário com um Kiai apenas.
O Kiai é uma técnica como um soco ou chute, mas não é tão físico.
Na verdade o Kiai é o uso consciente de uma técnica que todos nós já usamos inconscientemente. Por exemplo, você contrai o abdome quando está levantando algum peso e emite um grunhido, é uma forma rudimentar de Kiai.
Treinando o Kiai você vai aprendendo a usar de modo mais eficiente seu potencial de energia vital, que é o “Ki”.
Principalmente há uma preparação para a ação que é física e mental e então uma concentração de poder que é física e mental. As duas fases do Kiai são o retesamente e o impulso. A fase de retesamento consiste na contração dos músculos abdominais e inspiração profunda, assim como o cérebro é o quartel-general das atividades mentais o abdome é o quartel-general das atividades físicas. A contração dos músculos abdominais prepara o corpo para um surto de energia. A inspiração profunda enriquece a corrente sanguínea do oxigênio, indispensável para o organismo que vai depender dessa energia adicional A segunda fase é o impulso, nesta fase a ação essencial é levada a termo (a ação de levantar, atirar, empurrar ou desferir o golpe), enquanto o ar é expirado bruscamente. A expiração pode ser acompanhada por um grito, o Kiai, que tem um som monossilábico mais ou menos assim: “hai”, “eei”, “hum”, “iahh” “aai”, etc.
O Kiai deve ser curto e tão alto quanto possível, porém não deve ser confundido com um simples grito. Um Kiai bem executado não fará sua garganta sentir-se áspera como um grito faz.
O som produz dois efeitos psicológicos, assusta e desconcerta o adversário e aumenta nossa coragem. Qualquer som pode ser usado como Kiai, muitas vezes o som “Ki” é usado durante a preparação para o golpe e o som “ai” durante a execução.
Quando feito corretamente, o Kiai limpa o ar dos pulmões. Isto é bom, porque se você for barrado após executar o Kiai, as chances de ter o ar comprimido para fora são bastante reduzidas. Também por tirar o ar dos pulmões faz de você um obstáculo mais firme e denso e se você for acertado depois do Kiai não será tão machucado.
O Kiai deve assustar seu oponente. Mesmo uma simples pausa ou um piscar de olhos do seu oponente podem abrir uma brecha para você. Use o Kiai para ajudar a abrir esta entrada. O Kiai deve “mexer” com sua energia, liberar a sua adrenalina antes da luta e dar-lhe coragem e força.
Com o treinamento é possível concentrar a energia onde ela é mais necessária, ao invés de espalhá-la pelo corpo. Isto envolve concentração física e mental que canaliza a energia para regiões definidas do corpo. Você, a princípio, não é capaz de conseguir isso, mas com o passar do tempo, sua capacidade de concentração aumentará cada vez mais.

Pesquisa e adaptação: Prof. Estivales

segunda-feira, outubro 03, 2011

"O Karatê só funciona, quando passa a fazer parte da sua vida, assim como você escova os dentes, toma banho ou dorme." [Estivales]

quarta-feira, setembro 21, 2011

O Karatê e a sua filosofia

Yahara Sensei (8º Dan) diz que “o Karatê não tem filosofia”. Acho que entendi o que ele quer dizer e concordo com ele.

Na verdade, penso que o que conhecemos por filosofia no Karatê nada mais é do que o costume do povo japonês: A disciplina, a etiqueta, a higiene, a apreciação pela harmonia e estética etc., são costumes japoneses inseridos no Karatê, assim como outras Artes Marciais, criadas por outras nações herdaram os costumes dos seus respectivos povos.

Fazemos a reverência e demais procedimentos no estilo japonês, porque foi assim que os mestres nos passaram, esse é o costume enquanto estavam no Japão. Isso é a tradição que caracteriza esta arte e que define qual é a Arte Marcial que estamos praticando e que tentamos reproduzir no ocidente, mas tudo se resume em apenas uma coisa: BOA EDUCAÇÃO, porque isso é da cultura dos japoneses: manter a compostura sempre, ser educado, tirar os sapatos para entrar nas casas japonesas, escritórios, clínicas, hospitais, instituições públicas, associações, etc., tudo isso faz parte da sua cultura. A educação, higiene, falar em voz baixa, pedir desculpas mesmo se o outro for culpado, faz parte do dia a dia. Isso é o que, na maioria dos casos, nós inserimos nos treinamentos em nossos dojo, mas geralmente esquecemos de praticar fora deles, porque essa não é a conduta usual, como deveria ser, na nossa sociedade.


O Karatê, na sua essência, é uma arte militar (marcial), então deve-se ter uma conduta disciplinar semelhante a militar, mas filosofia estrangeira em excesso pode transformar o praticante em apenas mais um excêntrico imitador de um nativo oriental.
Quando se pratica qualquer Arte Marcial, inicialmente, pode-se até não aceitar certas coisas, mas com o tempo os segredos e as perguntas vão se revelando e sendo respondidos na medida em que nos aprofundamos, na medida em que amadurecemos e então essa “filosofia” passa a ser uma coisa natural.
O Karatê, antes de qualquer filosofia, é uma forma de lutar, e como arte marcial deve ser usado como uma das chaves que abre uma das portas para várias faces do desenvolvimento humano, mas acho eu que, filosofia de vida, é igual a religião: você escolhe e pratica aquilo que lhe faz sentir-se bem sem chocar seu semelhante.


[Estivales]

sábado, setembro 10, 2011

KIHON KUMITE

Considero o Kihon Kumite como uma "alfabetização motora". Por exemplo, na prática do Ipon Kumite, onde prepara-se com gedan-barai e se avança com oi-zuki na direção do oponente que espera em yoi, isso serve para aprendizado. Isso é como "soletrar o karatê". É aprender a somar, diminuir, multiplicar e dividir, mas ninguém vai para a universidade apenas soletrando e sabendo as quatro operações, pois a vida fora dela é bem diferente.

Nas aulas é feito dessa forma, para que se possibilite o treinamento, mas na luta real, por exemplo, esperar que o atacante seja atingido com dois ou três golpes, depois seja agarrado, derrubado e imobilizado, sem que esboce reação, é pura fantasia, porque nenhum atacante ficará imóvel esperando que uma sequência de contra-ataques seja completada sem fazer nada.  Até porque, os próprios golpes que desferirmos, se forem potentes, irão fazê-lo se movimentar.

É ilusão esperar que alguém fique na mesma posição após levar o primeiro contra-golpe.  Precisamos compreender, para não ficarmos enganados, que o kihon do Karatê não é uma coisa concebida para "resolver a luta", é feito eu diria até, como uma “teoria”, para que a pessoa compreenda e aprenda os princípios do estilo de Karatê que pratica e desenvolva as potencialidades necessárias para uma luta real, a qual requer muitas outras coisas.

Desta forma, penso que o Kihon, serve para o iniciante adquirir noção de distância, força, velocidade explosiva, elasticidade, equilíbrio, reflexos, controle mental, aplicação correta da defesa e contra-ataque, etc., buscando também a perfeição e o equilíbrio das bases, etc., mas lutar se aprende mais é lutando, mesmo. A luta real é cruel e é um somatório de tudo isso e se não estivermos preparados física e mentalmente, seremos derrotados.

[Estivales]

terça-feira, agosto 30, 2011

Lutar e dançar conforme o ritmo

Quem sabe "dançar", dança no ritmo que a música toca e em sincronia com seu parceiro.
Com o tempo, aprendemos a lutar tanto com crianças de 6 anos, quanto com atletas adultos.
No treino a força e a velocidade dos golpes é ditada pelo adversário e é uma questão de sensibilidade de nossa parte.
Todos devemos conhecer os riscos que corremos ao praticar qualquer tipo de luta ou esporte, entretanto, isso se torna danoso e prejudicial quando machucar o parceiro, no treino, passa a ser intenção e a luta apenas uma desculpa para isso.
Por isso digo: deve-se “dançar conforme a música”. Com os fortes se treina forte e com os fracos se treina a paciência e a humildade. Isso é “respeitar” as diferenças, pois todos possuem deficiências físicas em maior ou menor grau, aparentes ou não.


[Estivales]

segunda-feira, agosto 15, 2011

Quem manda em minha cabeça?

Aparentemente não tem nada a ver com Karatê, nem é nada pessoal mas raciocinando com mais calma verão que tem muito a ver com as  discussões e até desafios que se vê nas comunidades das redes sociais.

Aproveitei o feriado do carnaval passado para ler o livro “O Glorioso Acidente” de Clemente Nóbrega. Em certo trecho do livro (pág. 185) ele diz:
“Quando uma gazela pastando com seu bando vê um predador que se aproxima, ela começa a dar saltos e fazer barulho, ela está dizendo ao predador: Vê como eu posso saltar assim alto: Vê como eu posso me dar ao luxo de fazer barulho e não fugir de você? Isto é porque eu me garanto; sei que posso fugir se você quiser me pegar. Não perca seu tempo comigo, vá atrás de um outro do bando.”

A mesma coisa é a exuberância exagerada da cauda do pavão. Ele está dizendo à fêmea: “Vê como eu sou saudável? Posso me dar ao luxo de exibir este trambolho dessa cauda e ainda assim os predadores não me pegam. Venha copular comigo. Eu sou garantia de muitas crias saudáveis.”

Refletindo nisso: Quem é esse “eu” que é produto da mente, do orgulho, do egoísmo e que precisa fazer  propaganda dos seus "poderes" ou valentia e dar demonstrações de  não ter medo de aceitar desafios?

O cérebro de alguns parece uma espécie de um monte de estrume no qual as larvas das idéias dos outros se renovam antes de tentar enviar cópias das mesmas por aí... Isso parece roubar a importância das suas mentes...
De acordo com essa visão quem é que manda em nossa cabeça – nós ou os outros?


[Estivales]

sábado, agosto 06, 2011

Eu faço o meu caminho e o chamo de Karatê

Hoje tenho noção de que quando comecei a praticar Karatê, começou uma nova era na minha vida. Conhecer o Karatê, para mim, além de significar jamais me sentir totalmente desarmado, significa também assumir um compromisso com a tradição e paradoxalmente com a constante renovação desta Arte.
Vejo o Karatê como uma espécie de topografia, onde precisamos constantemente ter o trabalho de aplainar o terreno para uma luta interna, onde há picos de entusiasmo e sucessos, planícies de uma rotina maçante, vales de decepções e fracassos e quando não desistirmos deste trabalho, chegamos ao oceano, onde conforme nossos conhecimentos, navegamos ou naufragamos para sempre. Desta forma é que estou sempre aplainando o caminho e esse caminho para mim, não é apenas um meio para atingir meu objetivo, esse caminho é o próprio objetivo em si , para mostrar para mim mesmo quem sou eu.
Enquanto alguns só se interessam em descobrir qual é a origem do Karatê, eu me interesso mais em descobrir qual é o seu destino em mim. Sei que o Karatê só pode ser compreendido olhando-se para seu passado histórico, mas só pode ser praticado olhando-se para o futuro, portanto eu faço o meu caminho e o chamo de Karatê, mesmo sem saber até onde ele me levará.
O que sou no Karatê é fruto da minha experiência passada, mas também é muito mais a minha vontade impulsionada ao futuro, na tentativa de chegar ao extremo de mim mesmo, que é o aperfeiçoamento do meu controle, caráter, saúde, serenidade, respeito, etc., mas isso tudo ainda é pouco. O que quero do Karatê, de fato, ainda não sei o nome...
[Estivales]

sexta-feira, julho 29, 2011

HONRA NA BRIGA

Se o adversário é inferior a ti, brigar é covardia. Se o adversário é superior a ti, brigar é burrice. Se o adversário é igual a ti, brigar é perda de tempo. Não há honra nenhuma nisso, só perda.
Se você tiver que brigar, que seja sempre pela defesa e devido a obstinação do adversário.
[Estivales]

terça-feira, julho 26, 2011

O APRENDIZADO

Nunca fui um sábio nem um mestre, continuo sendo um aprendiz e aprendendo com os outros, mas chega-se a um ponto em que se aprende mais consigo mesmo. [Estivales]

A BUSCA DA VERDADE

Fazendo analogia com o Karatê, poder-se-ia dizer que alguém que tira uma sinfonia em um teclado eletrônico, realmente sabe "música", uma vez que o acompanhamento já vem todo pronto? Da mesma forma que quem treina em cima de tatames macios, com roupas folgadas, em ambiente climatizado, com luvas acolchoadas, protetor de canela, controlando os golpes e ao som de musiquinhas dance, estará praticando realmente o Karatê verdadeiro? Penso que, pode até ter uma boa técnica e ser um ótimo atleta, mas não tem a experiência em um ambiente mais verdadeiro e real de perigo.
Por isso é necessário, assim como os antigos, praticar também na natureza, em todos os tipos de terreno, com relevo e desniveis, para assim se aproximar mais e sentir mais de perto as verdadeiras condições de um combate real. [Estivales]

domingo, julho 24, 2011

MOTIVOS PARA TREINAR

Algumas vezes me perguntei: por quê eu faço Karatê? Realmente não sei… talvez nunca descubra. Eu simplesmente, acordo e vou dormir pensando em Karatê, sem pensar em motivos. [Estivales]

sábado, julho 23, 2011

A PRÁTICA

A verdadeira utilização do Karatê está na vivência desta arte marcial e na aplicação individual da mesma em todos os aspectos da sua vida. [Estivales]

quinta-feira, julho 21, 2011

A PRÁTICA DO PENSAMENTO ZEN NO KARATÊ

À medida que você se move na direção do futuro, estudando e desenvolvendo-se, quanto mais profundamente você mergulha em alguma coisa, mais insatisfeito você se sente. Isso e muito natural.
Às vezes você se sente bem, outras vezes, não se sente bem, mas não há nada errado nisso. Seja como for que você se sinta a esse respeito simplesmente caminhe nessa direção.
Quando você senta para tomar café, apenas tome-o. Quando você beber um copo d'agua, apenas beba. Quando você for praticar, apenas pratique.
Quer você se levante de manhã, quer você apenas se deite para dormir, você está sempre fazendo ou preocupado com algo. É como tentar adormecer. Se você tenta dormir, você não consegue. Quanto mais você se preocupa e mais deseja dormir, mais os seus olhos ficam abertos. Se você não consegue dormir; simplesmente aceite esse fato. Em outras palavras, não se esforce. Isso é apenas ir, apenas vir...
Executamos rituais todos os dias. Nós nos levantamos escovamos os dentes, lavamos o rosto, nos vestimos, e tudo isso são formas pelas quais podemos experimentar o Samadhi (concentração mental), uma vez que nos concentremos totalmente nelas. Para experimentarmos essa unidade e essa serenidade, não temos necessidade de nenhum ritual religioso.
Tudo o que você precisa fazer e apenas esforçar-se ao máximo libertando-se de um rótulo ou julgamento de que você é ou não capaz e do que você é ou não. Esqueça isso e faça apenas um esforço enorme. Não há absolutamente nada a atingir. Não há nada a ser alcançado. Dar tempo a si mesmo, trabalhar ativamente em direção a um objetivo, sem estabelecer um limite de até onde pretende chegar. Eliminar da mente a definição de prazo, é como retirar um peso dos ombros.
O caminho (o treino) não é um meio para um fim, ele é o próprio fim. O treino (a prática) deve ser um fim em si mesma. Se tudo o que você faz, realiza como se fosse um fim em si mesmo, então você se liberta.
Pesquisa e adaptação: Cesar Estivales
                    Baseado no livro: O Retorno ao Silêncio, de Dainin Katagiri

terça-feira, julho 19, 2011

TÉCNICAS ANTIGAS

No karatê nada é ultrapassado. Nenhuma técnica está ultrapassada.  Tudo o que fazemos é uma etapa do treinamento.
O que os antigos mestres nos mostram são fases didáticas e crescentes pela qual nosso karatê passa e  que são necessárias para nossa evolução e compreensão do que se faz hoje em dia.
Treinar karatê como manda a “cartilha" dos mestres Funakoshi e Nakayama é apenas um método para se chegar àquilo que os karatekas mais eficientes fazem.
Aquilo que alguns chamam de ultrapassado, eu prefiro chamar de simples ou velho conhecido, mas nunca desnecessário.
Além disso, não há nenhum golpe usado em competição que seja novidade. O que se faz em treinamento é apenas mudar a estratégia para aplicá-lo, fazendo com que dê resultado contra lutadores também experientes.
É lógico que as técnicas "velhas conhecidas" dos karatekas, têm mais chance de dar certo contra pessoas que não as conhecem ou mesmo lutadores de outra arte marcial, ou lutadores menos experientes, mas não são menos eficientes por causa disso.

sábado, julho 16, 2011

CITAÇÕES E DISCÓRDIA

Analisando “bem de pertinho” algumas citações, não concordo com algumas coisas que “sábios” dizem. Talvez isso se passe pela minha pouca inteligência, mas como não sou nenhum gênio e ser diplomata é discordar sem gerar contenda, então eu aceito os seus direitos de dizê-las, entretanto, sem seguí-las, porque não há um sábio ou mesmo líder religioso no mundo que não tenha falado alguma besteira... imagine eu. [Estivales]

A Defesa Pessoal

Praticar Defesa Pessoal é como criar uma área de segurança em torno de si mesmo, fortalecê-la constantemente e manter-se sempre dentro dela. Na vida real, isto é como uma ilha rodeada por um mar revolto, dentro da qual devemos permanecer em segurança.
Não devemos desgastar nossa área de segurança causando erosão do seu solo firme com a negligência aos treinamentos, ou seja, entregando aos poucos, à ociosidade tudo aquilo que adquirimos ou sabemos. Ao contrário, a cada dia devemos tentar aumentar a nossa área firme para ter mais possibilidades e capacidade de sobrevivência dentro dela, porque uma coisa é certa: Nunca estacionamos e quando não estamos melhorando, estaremos piorando.

terça-feira, julho 12, 2011

Marcialidade X Esportividade

Lendo sobre psicologia, cheguei à conclusão de que no Karatê existem dois tipos básicos de pessoas: Os esportistas, que são atletas e gostam de competir e os marcialistas, que são artistas e buscam o conhecimento e a evolução individual através da busca da perfeição.
Se uma pessoa pertence ao primeiro grupo e for proibida de competir, logo ficará estressada, porque ela está desobedecendo ao seu ritmo. Por outro lado, se ela pertencer ao segundo grupo, seu prazer é outro e se tentar agir como um esportista enfrentará o mesmo problema.
É lógico que pode haver uma fusão dessas duas tendências, mas sempre uma irá se sobressair sobre a outra.
Não adianta ficarmos brigando para que todos sejam ou gostem daquilo que nós gostamos, não existem duas pessoas iguais no mundo. Podemos até direcionar, mas nunca forçar de forma autoritária ou ditatorial um ou outro comportamento nos jovens, pois tudo que se força muito se quebra.
O que temos a fazer é aceitar as tendências, caso contrário toda sua vida será desperdiçada. Procurar sentir prazer de ser como somos. Quem não faz isso, se torna insatisfeito consigo mesmo. Fica faltando algo, porque há um desequilíbrio ou uma divisão entre sua mente e o seu corpo. Por isto devemos fazer o que a nossa natureza deseja fazer.
Isso que eu chamo “conhecer a si mesmo”. Mas, além disso, também é necessário aceitar o que o outro quer para si, pois toda crítica é baseada sempre em nossas crenças particulares.

segunda-feira, julho 11, 2011

A HIERARQUIA

A hierarquia é chegar primeiro, ir-se por último e manter-se até o final. Ter hierarquia no Karatê não é saber mais técnicas ou Katas que os demais, mas esforçar-se ao máximo por sabê-las bem e por treiná-las com todo nosso esforço.
Quanto mais hierarquia se tem, mais se deve estar disposto às perguntas dos demais, porque maior é a responsabilidade que se adquire, não somente em fazer bem a técnica e também ser parte ativa do Dojô e de entregar-se aos demais companheiros. À medida que se vai subindo na hierarquia do Dojô, maior é a preocupação por fazer um Karatê melhor, não somente durante a prática ou no treino, mas durante todo o dia, durante toda a vida.
Hierarquia não é igual a liderança, porque eu poderia ter qualidades de líder porém não estar posicionado acima na hierarquia.
No caso do Karatê, ser um senpai não significa mandar nos kohai ou tê-los como inferiores, mas pelo contrário, é estar disponível sempre para ajudá-los com suas dúvidas ou perguntas, ou simplesmente ensinar-lhes alguma técnica ou Kata quando estes lhe pedirem.
O verdadeiro Senpai presta atenção às necessidades dos demais e às do dojô, não deixa passar nenhuma oportunidade para ajudar no que possa fazer. Tudo isso se deve fazer com o melhor de cada um, é fazer as coisas o melhor possível, com o que se tem. Se alguém acredita que não é suficiente bom para fazer algo e por essa razão não o faz, essa pessoa não vale nada. Em troca se realizam as coisas fazendo o maior esforço, ainda que o feito seja pouco, vale muito, porque se faz sinceramente e com dedicação.
As tarefas pequenas geralmente mostram um grande coração, como por exemplo, começar a aula quando o Sensei não está, oferecer água ao que não tem durante os descansos, servir aos demais em alguma reunião gastronômica do Dojô, etc.
O verdadeiro Senpai é fiel ao que crê: termina suas tarefas, mantém suas promessas e completa seus compromissos dentro e fora do Dojô. Ter hierarquia é comprometer-se, manter-se firme e estável dentro do Dojô.
O verdadeiro Senpai é discreto, não se auto-promove, nem chama para si a atenção dos demais, nem tenta impressionar aos demais companheiros de treino. Ser senpai ou sensei não é igual a ser uma celebridade.
O verdadeiro Senpai deve pensar mais nos outros do que em si mesmo, em outras palavras precisa ter HUMILDADE. Não é pensar menos “de”, mas menos em “si mesmo”. Esta luta deve ser diária para conseguir fazer um melhor Karatê sempre e a cada dia.
Pessoalmente, como professor de Karatê, compreendi que ao colocar em prática a hierarquia, dei-me conta que ser aluno-senpai de um Dojô é completamente diferente de ser um sensei, muito diferente. É dirigir o aquecimento de vez em quando no lugar de dar as aulas TODOS OS DIAS. Não é dar aulas, é estar junto aos alunos, conhece-los conviver com eles, etc.
Estar no alto da hierarquia significa:
• Chegar primeiro, ir-se por último e manter-se até o final.
• Maior responsabilidade dentro e fora do Dojô.
• Participar nas exibições e torneios.
• Lanchar, almoçar, jantar, pensar, estudar, sonhar estudando Karatê.
• Buscar Karatê na Internet.
• Lembrar do aniversário do Sensei.
• Aprender o nome de todos os que compõem o Dojô.
• Dançar nas festas do Dojô.
• Buscar a coesão do grupo
• Manter-se fiel ao Dojô.
• Dar o exemplo aos que começam no caminho do Karatê.
• Ser parte ativa do Dojô.
• Apoiar o Sensei e aos demais companheiros do Dojô.
• Trabalhar duro seja no que for.
• Ter iniciativa para fazer as coisas.
• Fazer as coisas com a melhor atitude possível.

"HIERARQUIA NÃO SE RECEBE, SE GANHA".

Julio Campos

domingo, julho 03, 2011

O CAMINHO DAS MÃOS VAZIAS

Havia em certa cidade havia um professor de Karatê muito famoso por suas exigências. Os alunos que com ele treinavam, sempre ganhavam alguma colocação nos diversos torneios que a Federação organizava.
Apesar disso, o que mais havia nesse dojô eram faixas brancas e alguns poucos Faixas Pretas.
Certa vez um aluno já desanimado pela rigidez dos treinamentos e pelas exigências do seu professor que, segundo seus pensamentos não recompensava seus esforços satisfatoriamente, resolveu parar com seu treinamento e abandonar o Karatê.
Entretanto, antes de abandonar os treinamentos, ele foi dar uma satisfação ao seu professor, haja vista que, pelo menos respeito, honestidade e fidelidade ele achava que tinha aprendido, durante os longos anos que ali praticara.
Então, como de costume, colocou seu Karatê-Gi e diante do seu professor começou a manifestar seus motivos de abandonar os treinamentos:
- Oss, Sensei! Resolvi que vou parar de praticar Karatê...
- Sim?
- Eu acho que não levo jeito para isso...
- Sim?
- Já faz vários anos que aqui estou e ainda não consegui galgar nenhuma graduação...
- Sim?
- Veja Sensei, já estou aqui a mais de quatro anos e ainda não sai da faixa branca!
- Sim!
- Sei que tenho muito o que aprender ainda, mas tenho ido aos torneios e tenho vencido muitos Karatekas bem mais graduados que eu, não falto as aulas, tenho estudado o Karatê e mesmo assim, continuo na faixa branca...!
- Sim?
- Então resolvi ir embora, vou procurar outra coisa na qual eu consiga evoluir.
- Sim... Se você vai mesmo embora, não esqueça de apanhar seus documentos e as fotos que tiramos todos juntos que estão na sua pasta arquivada no nosso escritório.
- Obrigado por tudo Sensei e até mais! Oss!!
Então o aluno fez uma profunda reverência ao seu professor e com o coração apertado dirigiu-se ao escritório e falou com a secretária:
- O Sensei mandou você entregar-me os documentos e fotos que estiverem na minha pasta.
Então a secretária entregou-lhe um envelope pardo e o aluno dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa quando, por curiosidade, resolveu olhar o que havia no envelope.
Quando ele abriu o envelope, seu coração quase parou. Juntamente com as fotos de seus colegas, momentos de alegria etc., lá encontravam-se seis certificados de graduação até a faixa marrom. Todos preenchidos com o seu nome, datados nas respectivas carências e devidamente assinados e registrados na Federação.
Nesse momento foi como se o chão e o céu se abrissem e ele compreendeu que a cor da faixa não significa nada e com os olhos cheios de lágrimas retornou ao Dojô, onde seu professor o recebeu como se nada houvesse acontecido, alinhando-se no lugar de sempre, mas agora de sua face resplandecia uma grande serenidade.
Durante algum tempo esse aluno ainda usou sua velha e já encardida Faixa Branca, tendo-a trocado pela Faixa Marrom apenas no momento de prestar exame para Faixa Preta junto a uma banca da Federação, onde foi aprovado com louvor.

Autoria: C. A. Estivales

CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA

Esse texto foi encontrado em uma velha apostila e digitado pelo Sensei Cesar Estivales. É de fundamental importância a todo Karateca que busca comprender a maneira como aconteceu em determinada época a evolução e desenvolvimento do Karate. Nosso objetivo em postar esse material é simplesmente colaborar para o bem do Karate-Do e o esclarecimento de muitas questões históricas aqui relatadas pelas palavras do próprio Mestre Nakayama. Prof. André S. Maraschin



CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA
Traduções

Quando comecei estas traduções, esperava que pudesse apenas buscar informações sobre meu trabalho, mas à medida que lia, sentia uma necessidade profunda de mudar. Mudar minha visão do KARATE, minha visão sobre a vida.
Conhecendo um pouco deste grande líder e de seu mestre, o prof. Funakoshi, será possível ao leitor rever seus pensamentos sobre o verdadeiro caminho das mãos vazias.
Espero que esse empreendimento que hora começamos, dê um alento e faça ressurgir o sentido de autoconhecimento; o verdadeiro KARATE-DO.

Prefácio
Masatoshi Nakayama tinha acabado de voltar de sua longa estadia na China, quando eu entrei para o clube de Karatê da Universidade de Takushoku em 1947. Naquele tempo, Mestre Nakayama era assistente do Mestre Gichin Funakoshi, o fundador do KARATE-DO japonês, e era o instrutor do time de Karatê da Universidade de Takushoku.
Depois de 2 anos de treinamento em era convidado a entrar para a seleção, e depois de meu terceiro ano na universidade todos os membros da equipe foram convidados a viver nos dormitórios da universidade, então nós poderíamos treinar juntos dia e noite. Mestre Nakayama viria para o dormitório e ficaria conosco 2 vezes por semana para nos assistir em nossos treinamentos, e foi durante este tempo que vivia conosco que ele e eu desenvolvemos uma forte amizade.
Até o final de meu terceiro ano eu me tornei o capitão da equipe de Karatê da Universidade de Takushoku e isto aumentou fortemente o relacionamento entre Mestre Nakayama e eu.
Durante os treinamentos da equipe, Mestre Funakoshi vinha em pessoa e observava nossa prática uma vez por semana. Ele se sentava no fim da sala de treinamento, no chão, num estado de profunda concentração, e ele nos oferecia seus conhecimentos sobre técnicas e suas profundas filosofias pessoais sobre os aspectos do KARATE-DO e a vida em geral. Foi desde aquela época que eu vim a perceber que todas as filosofias de Mestre Funakoshi, as técnicas e as idéias tinham sido completamente absorvidas por Mestre Nakayama.
Há muitas personalidades nas artes marciais hoje, mas eu estou convencido que Masatoshi Nakayama é um verdadeiro mestre em todos os sentidos da palavra e nós somos afortunados por tê-lo vivendo nestes dias e nesta época nos liderando e guiando-nos nas técnicas, filosofias e caminhos do Mestre Funakoshi. Mestre Nakayama é verdadeiramente um grande homem.
Muitos livros, suas extensivas viagens, sua natureza e personalidade em geral – que está completamente aberta e franca – tem feito dele uma reconhecida figura mundial.
Eu acredito que aqueles que leram seus livros e estudaram os pensamentos de Mestre Nakayama encontrarão motivos para examinar e reexaminar os profundos significados do KARATE-DO.

É necessário apresentar Masatoshi Nakayama somente para aqueles que nunca se envolveram com os treinamentos de KARATE. No âmbito mundial, seu nome é tão familiar quanto o nome de D. Pedro I é para as crianças das escolas brasileiras. Então para aqueles leitores que não são artistas marciais é necessário dizer que Masatoshi Nakayama foi o Grande Mestre da Associação Japonesa de KARATE (JKA), a maior e mais poderosa organização de KARATE.
Nono Grau faixa preta, Nakayama foi o mais antigo e mais velho aluno de Gichin Funakoshi, o homem que introduziu o KARATE de Okinawa no Japão em 1922. Foi sob a orientação direta de Funakoshi que Nakayama aprendeu KARATE, e foi Funakoshi que oficialmente designou Nakayama para passar a arte às futuras gerações.
É inimaginável que alguém, em algum lugar da Terra não tenha ouvido a palavra “KARATE”, e se essa pessoa puder ser encontrada, há poucas dúvidas que Mr. Guiness (o mesmo do livro de recordes) gostaria de falar com ele ou ela. A entrevista que se segue com o homem que, mais do que ninguém foi o responsável por este amplo conhecimento do KARATE, “O caminho das mãos vazias”.
Foi ele que, sob orientação de Gichin Funakoshi, desenvolveu e implementou os conceitos de KARATE ESPORTE nos inícios dos anos de 1950,: e foi ele quem guiou a JAPAN KARATE ASSOCIATION e teceu de, um punhado de professores dispersos, para a presente situação mundial de mais de 10 milhões de membros em 65 países (dados de 1982), e foi ele que, apesar dos seus quase 70 anos, continuou trabalhando, viajando pelo mundo, ensinando e conferenciando e demonstrando os princípios aprendidos com seu mestre mais de 50 anos atrás.
Dizer que Masatoshi Nakayama foi uma figura pouco importante na historio e no desenvolvimento mundial do KARATE é o mesmo que dizer que Albert Einstein foi uma pessoa pouco inteligente.
A entrevista que se segue, de importância histórica, a mais completa e compreensível que o Prof. Nakayama já dera a um jornalista ocidental. Indubitavelmente, legiões de seguidores de Mestre Nakayama poderão se deliciar ao ler as entrevistas na qual o mestre Nakayama expõe suas idéias sobre as técnicas do KARATE, dentro claro de certos limites. No entanto, ele escreveu mais de 20 livros sobre o tema KARATE, e os leitores que querem ter uma visão sobre questões técnicas poderão se reportar a eles.
Observar este pequeno homem (Nakayama tinha exatos 1,65m) praticando seu KARATE era observar a incorporação das idéias que ele construiu com profundidade.
No dojo de Yutaka Uaguchi (sempai de Tanaka Sensei, tri campeão mundial) em Denver, Colorado, aos 69 anos de idade, Nakayama tirou sua parte de cima do kimono para mostrar aos faixas pretas quais músculos deveriam ser usados em várias técnicas. Uma estudante, enfermeira de aproximadamente, 30 anos, comentou: “em minha experiência de enfermeira eu vi um grande número de físicos de 70 anos, mas a primeira vez que vejo alguém nesta idade com um corpo de 35 anos”.
Na verdade, Masatoshi Nakayama em suas roupas normais aparentava uns 50 anos, em seu kimono, passando entre os jovens faixas pretas em meio aos chutes e socos, aparentava menos.
O mais alto estágio do KARATE-DO, ele disse, é transcender o corpo e a mente, um estado no qual a mente e o corpo movem-se livremente e suavemente, independentemente da idade ou da condição física. Ainda que ele fosse relutante em admitir isto, os seguidores de Nakayama acreditam que ele tinha alcançado este estado e se movia para além dele. “Ele não era um homem comum” disse um instrutor.
Para provar, seus seguidores lembram que Nakayama, também um professor de Esqui graduado, foi completamente esmagado numa avalanche enquanto esquiva nos Alpes japoneses em fevereiro de 1971. Os médicos o deram por morto e sua família foi chamada a permanecer junto ao leito aguardando o momento final. Não haveria possibilidades, disseram os médicos, de um homem naquela idade sobreviver à catástrofe.
Ao invés de morrer, entretanto, Nakayama levantou-se poucos dias depois e disse que estava com fome. Bem, O.K., admitiram os médicos, ele deverá viver, mas ele jamais andará novamente. Quando ele deixou o hospital quatro meses mais tarde e reassumiu seus treinamentos no Dojo Central da JKA, os doutores, assim como muitos de seus muitos estudantes, ficaram atônitos sem acreditar. “Há alguma coisa de especial sobre ele”, um doutor disse. E só posso atribuir sua recuperação à extraordinária condição física ou talvez a um milagre.
Mas ao ouvir isto Masatoshi Nakayama disse que não era um milagre e que não era ninguém especial: “KARATE-DO é alcançado um passo a cada tempo, e isto a vida inteira. Apenas treinar todos os dias e tentar ser melhor, e a verdade virá para você.”.
Para um homem com enormes méritos e força, a humildade de Nakayama era ingênua “quando eu for para o céu”, ele disse com um brilho em seus olhos, “Eu espero que Mestre Funakoshi não me bata por introduzir o esporte KARATE”. Então ele riu largamente. “Mas eu não penso que ele esteja magoado. Ele queria que eu expandisse o KARATE-DO ao redor do mundo e o ESPORTE KARATE tem certamente feito isto.”.
Masatoshi Nakayama foi à prova viva de um ditado de Confuncius: “O homem superior é modesto em suas palavras mas se excede em suas ações”.
O que esta entrevista mostra é a história e filosofia de um homem que devotou toda sua vida na causa do KARATE-DO. A história dita de suas próprias palavras, as vitórias e derrotas de um homem, sua luta para compreender, servir e por fim, liderar outros. Masatoshi Nakayama foi um elo entre o passado e o KARATE atual, era uma enciclopédia da arte do KARATE-DO SHOTOKAN, e assim que começará nossa entrevista – no passado onde às raízes da arte japonesa e o homem tiveram sua origem.


CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA

1. HASSEL - Sensei, talvez nós devêssemos começar com suas primeiras lembranças de sua vida e sua família.
NAKAYAMA - Minha família foi por muitas gerações uma família de instrutores de lança. Eles eram samurais ligados ao famoso clã Sanada, e eles continuaram ensinando a lancear até a época de meu pai. Meu avô foi o último da linhagem a ensinar a lança e meu pai estudou judô. Como um homem jovem, ele entrou para o exército e eventualmente tornou-se doutor com um grau de coronel.
Eu nasci em 1913 e porque meu pai estava posicionado em Taiwan, eu ocupei uma grande parte de minha educação básica numa escola em Taipei, Taiwan.

2. HASSEL - Quanto seu pai influenciou em sua prática das artes marciais?
NAKAYAMA - Eu diria que sua influência foi mais de forma geral do que de forma específica. Ele era o que chamaríamos hoje de estritamente disciplinador.
Naqueles dias, minha mãe, como outras mães, eram largamente responsáveis pela educação das crianças, e ela era muito boa em suas obrigações comigo e com meus irmãos mais novos. Mas algumas vezes nós saiamos da linha e meu pai ali estava para nos mostrar como sermos homens. Por um instante, em particular, bate em minha mente um desses dias.
Tanto quanto eu possa me lembrar em tinha 8 anos de idade e freqüentava o 1° ano da escola na China. Desde que eu era o mais velho, era minha responsabilidade olhar por meu irmão mais novo enquanto nós íamos para a escola e de sua volta. Ao longo do caminho para a escola, havia um grande campo usado para treinamentos militares e nós estávamos proibidos de subir a cerca e entrar nesta área. Mas, como muitas crianças, eu não pude resistir à tentação de passar para o outro lado e explorar o campo.
O campo era coberto por um grande número de buracos e crateras, e isto era muito sedutor para uma criança de 8 anos de idade explorar. Então sem pedir licença, eu levei meu irmão mais jovem para explorar o campo um dia. Havia toda espécie de construções e armamentos ao redor, e nós tínhamos um enorme e maravilhoso tempo para explorar isto tudo. Mas o tempo escapou de nós, e ficou muito escuro. Não era só isto, eu percebi que estávamos perdidos.
Nós vagamos ao redor do campo por horas, tentando encontrar o caminho da saída. Além de cairmos em vários buracos no escuro, o lugar também estava repleto de raposas e enormes ratos que quase nos mataram de susto. Finalmente meu pai, que era um homem muito preocupado naquela época, enviou muitos soldados a nos procurar.
Acabamos voltando para casa ao redor de meia noite, e eu sabia que tinha sido um grande incômodo. Meu pai me disse que eu tinha seriamente negligenciado minha grande responsabilidade de olhar por meu irmão. Isto, acoplado com o fato de ter deliberadamente desobedecido, deixou-me profundamente triste. Ao invés de me bater e mandar-me para a cama, ele me disse que ficasse do lado de fora da casa até as três horas da manhã e meditasse sobre todo incomodo que tinha causado. Isto aconteceu em meio ao inverno, então eu permaneci lá fora no frio, humilhado e perturbado com a mágoa e a angústia que tinha causado aos meus parentes.
Esta experiência teve um profundo efeito em mim, para dizer no mínimo, e eu penso nisto até hoje quando vou fazer qualquer coisa sob impulso. Isto pode ser colocado numa melhor perspectiva considerando que quando eu nasci em Tóquio, nós ainda usávamos o tradicional kimono e gueta. Minha família era puro samurai, e as coisas eram feitas diferentemente. Minha mãe nos criaria até a idade em que meu pai nos ensinaria como nos tornarmos homens – homens samurais.

3. HASSEL - O Sr. Estudou artes marciais em sua infância?
NAKAYAMA - Sim, estudei KENDO na escola secundária e no terceiro grau. Alguns de meus anos de alfabetização foram passados em Taipei, Taiwan, e nestes dias eu nadava sempre, jogava tênis, comecei a esquiar, e corri trilha. E era muito atlético. Na escola secundária, eu me concentrei no esqui e KENDO. Meus treinamentos de KENDO continuaram certos até meu ingresso na Universidade de Takushoku, e anos mais tarde.

4. HASSEL - O que o Sr. Estudou na Universidade Takushoku?
NAKAYAMA - Bem, será interessante voltar aos fatos que me levaram para a Universidade em primeiro lugar, e como sai, foi muito afortunado para mim, porque foi onde eu pela primeira vez vi o KARATE e conheci Mestre Funakoshi.
Como eu mencionei, minha família tinha sido de instrutores de lança até os tempos de meu avô Naomichi. Até aquele tempo nos tínhamos servido ao clã Sanada de Ueda Prefeitura de Shimano. Mas meu avô mudou-se para Tóquio e tornou-se sargento. Meu pai Naotoshi, seguiu os passos de seu pai e tornou-se sargento também, e esperava de mim que fosse para a medicina. Então, depois de me graduar na escola superior de Kanazawa, Ishikawa prefeitura, preparei-me para entrar na universidade de Hineji, prefeitura de Hyogo.
Enquanto eu estava lá, um incidente ocorreu na Manchúria, e nós fomos todos recomendados a fazer leituras sobre a cultura da Manchúria e da Mongólia, e isto estimulou uma vontade que eu sempre tive de visitar este belo e vasto país. Eu desejava muito ir para a China que, contra a vontade e o conhecimento de meu pai, secretamente fiz os exames para medicina na Universidade de Takushoku. (Takushoku literalmente significa cultivação e colonização, tendo sido fundado em 1900 com o propósito específico de treinar pessoas para trabalhar no além mar).
No momento em que entrei na universidade, eu estava bem preparado no KENDO, tendo praticado por mais de 5 anos. Então, quando eu cheguei à Universidade de Takushoku, eu imediatamente chequei a cédula para ver onde ficava o clube de KENDO. Mas eu li mal a cédula, e quando eu cheguei ao dojo, havia um punhado de homens em uniformes brancos praticando alguns estranhos movimentos como de dança. Um deles, um homem alto de aproximadamente 1,85m, assustou-me com repetidos pulos e chutando o teto com a bola do pé. Ele veio e me disse que estavam praticando KARATE, e se eu gostasse do que via, poderia treinar na próxima sessão.
Eu tinha lido alguma coisa sobre KARATE nos jornais, mas sabia muito pouco sobre isto, então decidi sentar-me e ver um pouco. Dali a pouco, um homem de idade veio para dentro do dojo e começou a instruir os alunos. Era extremamente amável e sorria a todos, mas não havia dúvidas que ele era o chefe instrutor. Naquele dia tive meu vislumbre pelo Mestre Funakoshi e pelo KARATE. Decidi que realmente faria e que tentaria o KARATE na próxima aula porque, com todo meu background de KENDO, seria fácil.
Já na próxima aula, duas coisas aconteceram que mudaram minha vida: Primeiro, eu esqueci completamente o KENDO, e segundo, eu descobri que as técnicas do KARATE não eram tão fáceis de fazer. Deste dia em diante, eu nunca mais esqueci o sentimento inerente de buscar a maestria nas técnicas do KARATE-DO.

5. HASSEL - Há muitas pessoas que começaram naquela época, ainda em atividade?
NAKAYAMA - Desafortunadamente, ninguém deste período está em atividade. Muitos deles passaram alguns anos, que me recordo, treinando com Kunio Endo e Koji Matsumoto de grande habilidade. Mas agora todos já se foram; e eu estou só.

6. HASSEL - O que eram seus treinos sob os cuidados de Mestre Funakoshi?
NAKAYAMA - As sessões de treino com Mestre Funakoshi eram severas e inflexíveis. Durante as sessões na universidade, Funakoshi Sensei levava-nos a executar técnicas e mais técnicas, centenas de vezes cada. Quando ele selecionava um KATA para nós praticarmos, nos repetíamos por 50 ou 60 vezes, e isto era sempre seguido por intensa prática de makiwava. Nós deveríamos socar até nossas frentes de mão sangrarem. Mestre Funakoshi mesmo apreciava golpear o makiwara, e posso vivamente lembrar dele batendo como que 1000 vezes com seus cotovelos. Os treinamentos eram tão cansativos que dos 60 novatos que começaram em 1932 junto comigo, somente 6 ou 7 de nós chegou ao final dos 6 meses de treino. O resto desistiu.

7. HASSEL- Naqueles dias, todos usava kimonos brancos como hoje?
NAKAYAMA- Naquele período , sim, mas não originalmente, claro. O Gi que usamos hoje, foi desenhado pelo Mestre Funakoshi depois que ele foi para o Japão. Em Okinawa, os estudantes vestiam uma versão de kimono tradicional, mas o traje era dividido nas pernas para permitir maior movimento. Este traje era chamado Hakama, e ainda pode ser visto no Japão de hoje. Mas o Japão em 1922 estava ainda preso a uma estreita estrutura social na qual diferentes níveis sociais vestiam diferentes trajes.
No topo da estrutura estavam os samurais, seguido em ordem, pelos fazendeiros, os artesões e os mercadores. O que o Mestre Funakoshi primeiro projetou foi um uniforme para a prática do KARATE que pudesse ser usado por qualquer pessoa, independente de sua classe ou posição social.
Depois de experimentar um pouco e fazer suas conclusões, ele veio com o uniforme que era a combinação do judô-gi e o tradicional Hakama, e é este uniforme que usamos até hoje. Também, a cor branca para simbolizar pureza nas intenções da pessoa que a usa, e servindo para erradicar a distinção entre as classes.

8. HASSEL - O que o Sr. Diria que é de maior significância na diferença entre os treinamentos de hoje e seus treinamentos sob a orientação de Mestre Funakoshi à muitos anos atrás? Quanto mudou as técnicas desde aquela época?
NAKAYAMA - Os princípios técnicos ensinados na JKA hoje são os mesmos daqueles do Mestre Funakoshi em seus dias. Os métodos usados para explicar e desenvolver estes princípios têm mudado naturalmente. Quando Mestre Funakoshi veio para o Japão e então começou a ensinar minha geração, o único método usado era o KATA.
O KATA era introduzido imediatamente nos treinamentos, e nós praticávamos continuamente. Quando nós tínhamos uma idéia básica de como os movimentos deveria ser executados, nós faríamos frente a frente, executando ataques e defesas baseados nos movimentos dos KATAS. Muitas coisas eram baseadas nos movimentos dos KATAS e as aplicações destes movimentos eram acompanhadas de ataques verdadeiros. Estes treinos eram muito difíceis e realísticos, e eu me lembro de muitas noites quando eu nem podia dormir porque meus braços e pulsos estavam cheios de hematomas de centenas de fortes repetições de um tipo particular de bloqueio de um KATA.
Como já mencionei, nenhum de meus seniores vive hoje, mas eles sabiam somente KATAS; era a única forma que Mestre Funakoshi ensinou-lhes, mas em minha geração, as coisas começaram a mudar. O povo de minha geração foi convidado a estudar artes marciais no início da escola (fase de alfabetização), e continuaram até o nível de graduação do colegial. KARATE não era ensinado nas escolas daquele tempo, então todos tinham estudado JUDO ou KENDO. Eu comecei KENDO na época da escola gramatical, por exemplo, e meus amigos também tinham praticado por um longo tempo. Mas JUDO e KENDO eram embasados no combate arremessando o oponente ou golpeando-o com a espada. Então, a idéia de combate estava profundamente enraizada em nós, e realmente precisávamos do aspecto combativo da qual o KARATE estava profundamente carente. Mestre Funakoshi entendeu isto e começou a mudar seus métodos de ensino para melhor atender as jovens gerações. Nós precisávamos mais que apenas KATA todo o tempo. E ele percebeu que coisas deveriam ser mudadas se ele quisesse atrair os jovens e ver sua arte crescer. Então, ele tomou técnicas dos KATAS e começou ensinando GOHON-KUMITE (5 passos com sparring) baseado em técnicas individuais do KATA.
Nós deveríamos caminhar 5 vezes com o mesmo ataque enquanto o defensor bloqueava. Então o defensor poderia contra-atacar. Mas nós tínhamos um alto espírito, e se o defensor não contra atacasse imediatamente, nós poderíamos atacá-lo novamente, e ele seria forçado a improvisar uma defesa e tentar contra golpear novamente. Estas ações tornaram-se as bases para o free-sparring (luta livre). Era natural o crescimento do espírito dos jovens praticando uns com os outros.
Pouco depois disso, nós começamos KIHON-IPPON-KUMITE, ou 1 passo de combate. Neste método, o atacante poderia anunciar a área do alvo, rosto ou estômago, e eles executariam com força, com uma técnica decisiva. O defensor tinha somente uma chance para fazer a correta defesa e contra golpear eficazmente. Isto muito de acordo com a filosofia das artes marciais que se resolve no conceito que não há segunda chance. Muitas coisas devem ser feitas corretamente na primeira vez, ou a pessoa morre. Nós não estávamos tentando matar uns aos outros, claro, mas nós estávamos tentando executar aquela que, seria a técnica perfeita com a qual poderíamos parar um oponente numa situação real de luta. O natural desenvolvimento deste tipo de treinamento era o JYU-IJPPON-KUMITE (o combate com um único golpe), na qual o defensor sabia qual a área seria atacada, mas no qual o atacante poderia movimentar-se livremente de posição e distância. A coisa mais significante sobre isto é que pela primeira vez o KARATE tinha sido ensinado de forma diferente daquela da aplicação dos movimentos de defesa pessoal do KATA, e com um sistema completo de KUMITE (luta livre) num único conjunto, em 5 anos de trabalho.
Quando Mestre Funakoshi publicou o KARATE DO KYOHAN em 1936, ele incluiu os métodos básicos de sparring no livro, e foi à primeira vez que se marcou esta nova idéia introduzindo-a para o público em geral.
Também neste período veio a idéia da prática de cada técnica em particular, como nós a conhecemos hoje (KIHON). Mestre Funakoshi entendeu que nós deveríamos praticar cada técnica independentemente para desenvolver o sentimento do IKKEN HITATSU (parar o oponente com um único golpe) no combate. Assim começamos a praticar cada técnica isoladamente, caminhando para frente e para trás no tablado de treino, repetindo as técnicas muitas vezes. Este hoje é o método fundamental de treinamento. Durante meus primeiros anos no colégio, os treinamentos de KARATE eram divididos em três aspectos como hoje – KIHON, KATA e KUMITE.
Eu comecei a treinar em 1932, e o KUMITE básico foi introduzido em 1933. Em 1934, JYU-IPPON-KUMITE era introduzido, e o JYU-KUMITE iniciou em 1935.
Em novembro de 1936, nós formamos o All Japan Collegiate Karatê Union e demos uma demonstração no Centro Cívico de Tóquio. Foi a primeira vez na história. Nós demonstramos ao público os novos métodos de treinamento de KUMITE, e mostramos como os estudantes progrediram no 5-passos para o 1-passo, então para o semilivre e finalmente para o combate livre.
Neste tempo, nós não tínhamos um dojo. Mestre Funakoshi ensinava nas escolas, e para grupos privados de companhias e no Tóquio Bar Association. Um grupo nosso, entretanto, queria mais treinamentos que só os da escola, então íamos juntos à noite para a casa de Mestre Funakoshi para mais treinamentos.
Na Universidade, nós treinávamos por 2 horas no período do almoço, e íamos para a casa do Mestre para mais 3 horas de treinamento à noite. Em sua casa havia uma varanda de madeira estreita. Enquanto nós treinávamos, Mestre Funakoshi e seu filho, Yoshitaka, permaneciam sentados no chão no fim da área e nos ensinavam. Era uma velha forma de se ensinar e era, acredito, a maneira com a qual Sensei poderia ficar mais profundamente concentrado nos movimentos dos estudantes. De tempos em tempos, Mestre Funakoshi levantava-se e demonstrava as técnicas ou explicava um ponto específico, e então se sentava novamente. Eu me lembro dele sentado ali com seu corpo reto e firme, e poderia permanecer ali naquela posição por 3 horas, movendo-se somente quando queira nos mostrar algum detalhe.
O deck da casa do Mestre Funakoshi era tão pequeno que só alguns de nós poderiam praticar ao mesmo tempo, e desde que nós treinávamos até ficar escuro, era freqüente nos chocarmos.
Naturalmente, naquela época, Mestre Funakoshi não era um homem de posses, então todos os estudantes se juntavam e colaboravam com dinheiro e doávamos ao Mestre para que pudesse ter uma condição melhor, e ajudá-lo em sua grande tarefa.

9. HASSEL - É bem sabido que Mestre Funakoshi escreveu o primeiro livro de KARATE, KARATE DO KYOHAN, e que ele mudou os caracteres de KARATE do antigo significado de Mãos Chinesas para Mãos Vazias. Como estas ações foram recebidas pelo grupo ligado ao KARATE e ao público em geral?
NAKAYAMA - Bem, os caracteres do KARATE tinham começado a ficarem bem conhecidos no início de 1930, mas ainda eram lidos como “Mãos Chinesas”. Em 1935, Mestre Funakoshi escreveu KARATE DO KYOHAN e propôs que os caracteres deveriam ser mudados para “Mãos Vazias” para melhor refletir a natureza do KARATE como uma arte Japonesa. Mais importante ainda, ele também propôs que KARATE-JUTSU, a técnica de KARATE, ser mudado para KARATE-DO, KARATE COMO UM CAMINHO DE VIDA. Isto causou um tremendo tumulto no meio dos mais velhos, os tradicionais mestres de KARATE de Okinawa daquela época, e eles se posicionaram fortemente a ele nos jornais. Eles queiram saber porque ele queria remover o KARATE de Okinawa e das raízes Chinesas. Ele respondeu a eles de maneira interessante. Ele disse, com efeito, que desde que o KARATE tinha se expandido para a ilha japonesa e sido aceito pela inteligência no Japão, ele tinha deixado de ser uma arte marcial local de Okinawa. Ele disse que tinha crescido para proporções universais sua aceitação, e deveria ser elevada a um status igual ao do KENDO, a mais antiga arte marcial japonesa, e JUDO, que era muito popular. O caractere que ele usou para KARA do budismo tradicional e também pronunciado “KU”, que significa “vácuo”, ou “vazio” e significa o universo.
Por 2 anos, cartas e artigos foram trocados entre Mestre Funakoshi e os jornais de Okinawa, e assim foi como ele me mostraria novos artigos todos os dias. Ele pacientemente respondia todas elas para eles, e finalmente os antigos mestres abriram seus olhos e se orgulharam de terem contribuído com a maior arte marcial do Japão.

10. HASSEL - Foi nesta época que o Mestre Funakoshi abriu seu primeiro dojo para o público. Como isso veio a ser?
NAKAYAMA - Seu primeiro dojo foi construído no ano seguinte à minha graduação na Universidade de Takushoku, e foi construída através dos esforços de seus estudantes. O mais antigo deles era Kichinosuke Saigo, um famoso político no Japão, Mr. Saigo organizou um comitê para solicitar donativos para a construção do dojo em 1938. Isto marcou a construção do primeiro dojo no Japão.

11. HASSEL - Foi um sucesso e bem recebido pelo povo japonês o dojo?
NAKAYAMA - Minha impressão é que o desenvolvimento do KARATE SHOTOKAN seguiu um especial e bem afortunado caminho. Todos os primeiros esforços do Mestre Funakoshi foram dirigidos para ensinar a inteligência no Japão – doutores, advogados, escolares e artistas. Estas pessoas acataram a arte muito seriamente e com alto grau de consideração. Eles estudaram muito e tornaram-se muito bons, e formaram um grande grupo de elite a partir dos seniores para representar o KARATE-DO de Mestre Funakoshi. Então, quando o dojo foi aberto ao público, este tinha a impressão já formada de que o KARATE era uma arte de virtuosismo e importante para as pessoas.
Estes seniores não ensinavam ao público em geral, e eu penso que isto serviu para mantê-los em grupo e aparte dos olhos do público como um grupo especial e importante para o KARATE.
Após mantê-los separados do público em geral, Mestre Funakoshi foi capaz de prepará-los com uma forte base – um importante grupo de pessoas aos olhos do povo, rigorosamente embasados nas técnicas e filosofias do KARATE-DO. Os estudantes em geral que vinham para treinar desta maneira tinham um alto ideal para vislumbrar, e nós sempre os encorajávamos a imitar os alunos mais velhos do Mestre. Isto realmente ajudou a configurar o KARATE SHOTOKAN e parte dos outros estilos para o público em geral, e não há dúvidas que foi o fator de maior contribuição no desenvolvimento de nossa grande organização internacional.

12. HASSEL - Já que estamos neste assunto, aproximadamente quantos membros há na JKA mundial hoje? (1982)
NAKAYAMA- Difícil para eu dizer, porque encabeço o lado técnico da organização e eu não sou um administrador. E devo confessar que eu não deveria meter-me sem saber o número exato, mas eu posso dizer que temos provavelmente 10 milhões de registros desde que nós começamos a fazer os registros. Naturalmente, difícil dizer quantos destes estão ativamente treinando neste exato momento. O número pode varias de 2 a 6 milhões, e há também aqueles que estão nas escolas e universidades, e ainda os muitos que apesar de estarem começando ainda não têm seu registro na JKA.
Entretanto o que eu poso lhe dizer com certeza é que a organização está ativa e bem de saúde em todo o mundo, e temos milhares de membros.

13. HASSEL - Sensei, o Sr. Obviamente é o centro do mais importante período na história do desenvolvimento do KARATE no Japão. Como o sistema completo que nós usamos hoje é comparado ao sistema então em costume, e quanto distantes nos movemos dos métodos do professor Funakoshi?
NAKAYAMA- Durante os anos que estava no colégio, Mestre Funakoshi desenvolveu e sistematizou o estilo de KARATE SHOTOKAN dentro de áreas básicas no treinamento – KIHON, que é psiquicamente o treino dos fundamentos, KATA, que é o exercício formal; e KUMITE, que é o combate. Ele dizia que estas três áreas são uma só e que não podem ser separadas. Mas elas são as bases teóricas para o KARATE como arte, e elas deitam as fundações para pesquisarmos sistematicamente nossas técnicas e tentar fazê-las forte. Hoje, a JKA segue exatamente os métodos do Mestre Funakoshi. Nós fazemos pesquisas constantemente para tentar encontrar caminhos para fazer o corpo forte e as técnicas fortes, mas nós seguimos os métodos do Mestre Funakoshi exatos.

14. HASSEL - Têm estas pesquisas levadas a grandes mudanças técnicas?
NAKAYAMA - Nós não mudamos um simples princípio básico em todos estes anos. O que nós temos encontrado através de nossas pesquisas é que, no todo, os princípios básicos de Mestre Funakoshi são corretos, fortes, e válidos à luz das evidências científicas. Quando eu digo que deve haver mudanças, quero dizer que com o advento dos torneios, nós temos que encontrar a maneira de mudar para que as técnicas possam ser usadas em competição.
Mas bases são bases, e nós não devemos mudá-las. Muitos indivíduos têm iniciado mudanças, mas suas atitudes são erradas e inaceitáveis. Muitos, por exemplo, têm criado uma noção errada que competição é tudo, e só treinam com o propósito de vencer a competição. Isto está absolutamente errado. O KARATE de Mestre Funakoshi se baseia no desenvolvimento de fortes bases técnicas primeiro, através do KIHON e KATA, e usa o KUMITE para testar as técnicas uns com os outros. Nenhuma outra idéia é tida como parte deste princípio.
Veja, antes de Mestre Funakoshi morrer, eu comecei a pesquisar a idéia de desenvolver torneios, ou – KARATE esporte -. Mas quando eu perguntei ao Mestre Funakoshi sua opinião, ele se recusou a comentar. Ele estava preocupado, veja você, que se os conceitos de torneio se tornassem muito populares, então os estudantes poderiam abandonar os princípios básicos e praticar somente para as competições. Ele sabia que nós teríamos as competições e que seriam importantes para a internacionalização do KARATE, mas ele queria isto claramente entendido, que a coisa mais importante seria sempre o treinamento básico. Por isso que enquanto tenho sido o Instrutor da Japan Karatê Association, o treinamento tem sido sempre centrado ao redor dos princípios básicos do Mestre Funakoshi, KIHON, KATA e KUMTIE. Fortes bases primeiro, torneios depois.

15. HASSEL - Sensei, antes de mudarmos para as questões filosóficas, poderia nos contar sobre suas experiências na China, e como elas influenciaram em seus treinamentos de KARATE?
NAKAYAMA - Sim. Eu gastei grande parte de meu tempo na China, e minhas experiências lá influenciaram fortemente meus pensamentos sobre as artes marciais.
Na Universidade de Takushoku, eu era especialista em história Chinesa e Mandarim, e planejava uma viagem para a China em meu segundo ano de universidade.
A viagem tomou uma maior significância para mim por causa de um incidente que ocorreu na primavera de meu primeiro ano. Eu tinha treinado KARATE por vários meses naquela época, e alguns amigos e eu fomos a um PIC-NIC no campo. Enquanto nós estávamos descansando, alguns rufiões começaram a nos incomodar, e eu fui muito rápido para mostrar a eles a força dos chutes e socos do KARATE. Eu estava muito bem capacitado a defender a mim e a meus amigos, mas quando Mestre Funakoshi ouviu sobre isto, ele ficou furioso. Ele me reprimiu severamente. Ele disse que eu tinha boas qualidades físicas, mas que eu era emocionalmente e espiritualmente imaturo. Ele disse que minhas ações foram de um covarde e imaturo, e que a verdadeira coragem recai sobre a auto restrição e a auto disciplina. Isto requer muito mais coragem, ele disse, andar em frente quando defrontado com o infortúnio do que sair dando socos e chutes para se exibir a todos.
Suas palavras tiveram um profundo efeito em mim, e eu me determinei a fazer minha viagem para a China para buscar uma maturidade espiritual. Então de junho a setembro de meu segundo ano, eu viajei a pé através da Manchúria, ao longo da Grande Montanha Khingan, para dentro dos descobertos da Mongólia. Eu praticava KARATE todos os dias, porém eu estava realmente só, com medo, e usualmente com fome. Mas naquela vasta solidão dos descampados da Mongólia, eu penso que comecei a entender a essência da autoconfidência e da realiança. Isto me ajudou a ver mais claramente minha própria natureza, e eu era capaz, além do mais, de superar minha solidão e meu medo. Em 1937, eu fui para Peking como estudante bolsista para continuar meus estudos de língua, história e sociedade Chinesa. E você não o acreditaria! A primeira coisa que eu vi na China foi o Boxe Chinês! De primeira, eu não fiquei muito impressionado com as artes Chinesas como método de luta. Eles enfatizavam movimentos circulares, e eles não tinham KIME (foco) como KARATE japonês, então eu pensei que eles eram fracos.
Com o passar do tempo, penso, eu aprendi que as artes Chinesas tinham grande valor. A história da China longa e profunda, e assim a história de suas artes marciais. Uma vez vi um instrutor receber um quebramento de braço do que parecia ser um golpe suave, um bloqueio circular, e eu decidi que deveria ver com mais profundidade as artes marciais Chinesas, e comece a estudá-las, e continuei por aproximadamente 10 anos.
Treinei muito com diferentes instrutores, e desde que eu também ensinava KARATE, uma arte que eles nunca tinham visto, muitos instrutores vieram para conhecer mais profundamente a arte. De fato quando os jornais japoneses enviaram uma multidão de filmadores para fazer uma história sobre as artes marciais Chinesas, sifu (professores) de todos os lugares da China vieram para demonstrar para as câmaras, e me perguntaram se poderia atuar como interprete. Como uma cortesia para mim, eles também insistiram que demonstrasse o KARATE, e aceitei. E minha demonstração, enfatizou KIME e KATA.
Naquela época, Japão e China estavam próximas da guerra, e passou a ser desconcertante ver jornais Japoneses e Chineses discutindo sobre qual país possuía a melhor arte marcial. Os Japoneses diziam que o Boxing Chinês parecia bonito, mas carecia de velocidade e KIME, e não era obviamente bom para lutar. Os Chineses retribuíam dizendo que enquanto o KARATE se mostrava veloz e forte e extremamente poderoso, ele era ainda uma nova arte marcial e por isto carecia de refinamento e profundidade.
Desde que eu estava ensinando KARATE a um grande número de sinceros estudantes Chineses e eles ensinando Kung-fu e Tai-chi, nós achávamos tudo aquilo muito divertido.
Meus sentimentos eram que enquanto as técnicas de KARATE confiam na conservação de energia para ser liberada de repente no fim de uma técnica como uma explosão, as artes Chinesas gastam uma grande parte da energia na preparação dos movimentos e libertam sua força como um lento deslizar de uma espada. Mas meu treinamento na China impressionou-me profundamente na idéia que duas culturas, tão diferentes no aspecto externo, poderiam ambas independentemente desenvolver artes marciais efetivas baseadas em suas próprias culturas e enraizadas profundamente nas mesmas bases filosóficas, a filosofia do homem esta em busca da perfeição do caráter através da expressão física, o que, para mim, é a coisa mais importante.
E por favor não me interprete mal: Eu não estou dizendo que as artes Chinesas são ruins. Eu treinei por longo tempo com um velho sifu de 80 anos de nome Pai (um famoso boxer de Peking) que era absolutamente extraordinário com as pernas. Ele parecia ser capaz de enrolar suas pernas ao redor de um ataque de braço, e seus movimentos de defesa eram maravilhosos. Como resultado dos estudos com ele, eu desenvolvi dois novos chutes os quais foram incorporados nas técnicas de KARATE por Mestre Funakoshi quando eu retornei para o Japão. Um foi o chute empurrado ou bloqueio com a sola do pé ou a parte inferior da perna, e o outro o chute circular reverso.

16. HASSEL - Quanto tempo o Sr. Permaneceu na China?
NAKAYAMA - Até 1946. Eu fiquei 5 anos na Universidade de Peking, e mais algum tempo trabalhando no governo Chinês.

17. HASSEL - Como eram as condições do Japão em 1946?
NAKAYAMA - Eram terríveis! Eu tinha ingenuamente pensado que poderia trabalhar ensinando Chinês, mas todo o país estava imerso na reconstrução do pós-guerra, e havia muito poucas academias disponíveis para a prática. Eu trabalhei como vendedor de secos e molhados por um tempo para minha sobrevivência.
Uma das primeiras coisas que fiz quando retornei para Tóquio foi começar a procurar por meus antigos camaradas e os seniores de KARATE. Mas muitos deles tinham desaparecido na guerra! Os que restaram não estavam mais ativos, principalmente. Então imediatamente procurei reuni-los todos juntos e iniciar os treinamentos novamente. Eu fui naturalmente afortunado porque, eu tinha continuado meus treinamentos na China.

18. HASSEL - Não havia uma lei em oposição à prática das artes marciais no Japão depois da guerra?
NAKAYAMA - Sim, mas o edital do GHQ (General Headquartesof Allied Powers) dizia em suas linhas que inclui o KARATE como parte do JUDO. Eu tinha um amigo que conhecia o chefe do Educations Bureau no Ministério de Educação, e ele nos ajudou a convencer as forças aliadas que o KARATE não era parte do JUDO em nada. Usando da premissa que KARATE era atualmente uma forma de boxe Chinês – como esporte – nós recebemos permissão para a prática. O GHQ pensava que o KARATE era apenas um inofensivo passatempo! Então enquanto outras artes marciais tiveram que esperar até o banimento da lei em 1948, nós pudemos treinar e progredir.

19. HASSEL - Quando a JKA foi oficialmente organizada?
NAKAYAMA - Nós nos organizamos oficialmente em maio de 1949, e fomos oficialmente incorporados como corpo educacional do Ministério da Educação em 1955.

20. HASSEL - Sensei, nos Estados Unidos, grande parte do KARATE dos anos de 1950 era ensinado por instrutores do comando geral. Que significância o Sr. Pensa que teve este trabalho na introdução do KARATE para a América?
NAKAYAMA - A história do KARATE americano realmente está ligado à decisão do Comando Aéreo Americano (SAC) de ensinar artes marciais para seu pessoal. Em 1951, SAC enviou 23 instrutores (para treinamentos físicos) para a Kodokan em Tóquio para estudar as várias artes marciais, sob os cuidados de instrutores japoneses. Este programa continuou por 15 anos e se colocou a um grande número de Americanos os corretos princípios do KARATE, JUDO, AYKIDO e outras artes marciais. Certamente os homens que participaram destes programas tiveram um significante impacto na transferência do KARATE para a América.

21. HASSEL - Estes estudos tiveram algum impacto no desenvolvimento do Programa de Treinamento de Instrutores da JKA?
NAKAYAMA - Sim, diretamente. Quando Mestre Funakoshi primeiro trouxe o KARATE para o Japão, ele era o único qualificado para ensinar. Mais tarde, quando Mestre Kenwa Mabuni trouxe o KARATE SHITO-RYU para Osaka, a arte começou a crescer rapidamente e havia muitos, muitos estudantes. Sua vasta popularidade levou a uma infortunada situação na qual muitos indivíduos que tinham somente 6 meses de treinamento com Mestre Funakoshi ou Mestre Mabuni ou qualquer outro, iniciaram seus próprios estilos. Por esta razão nós organizamos a JKA e formamos uma corporação como um corpo educacional sob os cuidados do Ministério da Educação em 1955, havia algo em torno de 200 assim chamados “estilos” de KARATE. E o público não tinha como saber quem estava ou não qualificado para ensinar e quem não estava.
Era, portanto nosso dever estabelecer modelos standards para a instrução e registrar estes modelos junto ao Ministério da Educação. Então, sob a coordenação de Mestre Funakoshi, comecei a formular o Programa de Treinamento de Instrutores. Minha opinião era que o ranking não deveria ser o único critério para apontar instrutores. Era mais importante ensiná-los como ensinar os outros. Eles deveriam ter um amplo conhecimento de outras áreas como física anatomia, psicologia, gerenciamento, e assim por diante. Mas isto era uma tarefa monumental, e precisei pedir ajuda e conselho aos estudantes mais antigos. Então, junto comigo significantes contribuições foram feitas no programa por Motokuni Sugiura, Teruyuki Okazaki, Hidetaka Nishiyama, e outros.

22. HASSEL - Sensei muitos instrutores do Ocidente parecem ter se perdido na explicação da filosofia básica do KARATE-DO e das artes marciais em geral para seus alunos. Eu gostaria de fazer uma série de questões filosóficas e saber se o senhor poderia ajudar-nos a entendê-las melhor.
NAKAYAMA - Eu tentarei.

23. HASSEL - De acordo com a maioria da literatura existente no Ocidente, parece que o KARATE-DO possui uma grande parte das filosofias Budistas e do Zen, mas muito pouco com Shinto, que é a maior religião do Japão. Esta impressão está correta, e se não, porque?
NAKAYAMA - Não, esta impressão não está correta. As Artes Marciais no Japão independente do Budismo ou Shinto tem uma longa história, e a filosofia está profundamente enraizada em todos os aspectos da vida japonesa. KARATE um caminho marcial, como KENDO e JUDO, e todos estes caminhos marciais têm suas raízes no início da cultura japonesa. Nas primeiras guerras, o instinto para a vida naturalmente trazia consigo o conceito de matar ou morrer. Isto é, o guerreiro tinha que matar o inimigo ou ser morto por ele. Isto era muito simples e natural. A partir daí, os guerreiros japoneses desenvolveram uma filosofia que se chama HEIJO-SHIN KORO MICHI, e esta é a base fundamental de todas as artes marciais. Isto quer dizer que o guerreiro deveria se esforçar em ser o mesmo na aparência não obstante o que ele estivesse fazendo ou o que estivesse vestindo. Quer ele esteja simplesmente indo para o seu dia a adia ou indo para a guerra encarando a morte, ele deve ser o mesmo e agir igual – confiante, calmo e preparado para agir, e completamente alerta internamente.
Naqueles primeiros dias, as filosofias do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo estavam se desenvolvendo no Japão, e os artistas marciais estudaram estas filosofias para adquirir um aprofundamento em como entender, com efeito, o HEIJO-SHIN KORO MICHI – a calma e o estado de prontidão, a mente presente. Muitos deles estudaram zen e outros estudaram Xintoísmo, mas eles todos estavam estudando com a mesma perspectiva. A escolha de estudar uma religião ou filosofia em detrimento a outra foi simplesmente que – era uma escolha pessoal. A espinha dorsal destes estudos já estava lá HEIJO-SHIN KORO MICHI. Eu sei que muitas coisas são explicadas no Ocidente em termos de uma religião ou filosofia ou qualquer outra forma, mas se você olhar profundamente para a cultura japonesa, você encontrará, que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a filosofia do guerreiro, está em todas as coisas é de fato um denominador comum dentro da cultura. NOH e KABUKI, por exemplo, são baseados fundamentalmente nas filosofias do BUDO. Elas requerem resistência, clareza, mente presente, e não há possibilidades para um erro em sua execução. Isto é o mesmo da filosofia do BUDO: Há somente uma chance para se executar a técnica correta. Erros não podem ser corrigidos. Se você faz algo errado, você morre. Isto é especialmente verdadeiro no KABUKI.
Outro fator que poderia fazer parecer que há mais influência no KARATE-DO da filosofia Zen que do Shinto, é que o Zen Budismo tem específicas formas físicas e ações que devem ser usadas na meditação, mas Shinto não tem muitas formas externas, formas Universais. O Shinto é baseado na família e na veneração dos ancestrais, e a forma dos rituais no Shinto não segue um formato específico. Então, segue-se logicamente que se alguém quer explicar uma forma particular, este irá a uma religião ou filosofia mais próxima, como Zen Budismo, por exemplo, que possui formas discerníveis prontas. Como pode alguém explicar um sistema formal em termos de outro sistema se este não possui forma ou formato? Assim, parece natural que se tenha ligado as explicações das filosofias das artes marciais ao redor do Zen Budismo mais que do Shinto. Mas se os alunos estudarem com muito carinho e especialmente os princípios do NOH KABUKI e SHI-NO-YU (cerimônia do chá), eles virão a entender que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a filosofia do caminho marcial, é que o Zen Budismo não é a base da filosofia marcial.

24. HASSEL - Os ocidentais são capazes de entender e sentir o YAMATO DAMACHI (o espírito de luta do Japão) descrito como de significante valor no caminho do KARATE-DO? Em outras palavras, é necessário para os ocidentais entender o YAMATO DAMACHI para entender o KARATE-DO?
NAKAYAMA - Yamato é um velho nome que nós usamos para o Japão antes de ser chamado NIPPON. YAMATO DAMACHI significa coração Japonês (NIPPON NO KOKORO) ou espírito Japonês, e cada país tem seu próprio coração, seu próprio e particular espírito. Poderemos falar, portanto sobre América no DAMACHI ou América no KOKORO. O particular espírito ou coração do Japão está centrado ao redor do samurai e sua devoção para com seu senhor, ou daimyo. No topo da estrutura estão o Imperador, daí vem o Shogun, o daimyo e o samurai. Este é um sistema linear no qual o samurai dá tudo de si para o seu senhor, que por sua vez serve ao Shogun, que por sua vez serve ao Imperador. O espírito deste sistema de auto-sacrifício e de abnegação da parte do samurai, primeiro para o bem de seu daimyo, e por último para o bem de seu Imperador e seu país.
O espírito da América pode ser um pouco diferente, mas pode se manifestar apropriadamente e de igual forma em tempos de crise. Durante a guerra, por exemplo, o povo americano praticou o auto sacrifício e a abnegação para o bem de seu país. E eles tiveram um intenso espírito de unidade e juntos repeliram o inimigo.
Cada país tem sua própria versão de seu espírito e as pessoas em seus países morreriam pelo bem geral. Isto é uma forma de lealdade e amor por seu país.
Entretanto, cada sociedade é diferente, e cada uma tem sua própria versão de e lealdade e orgulho. Algo de sacrifício para seu senhor, para seu presidente, para o primeiro ministro, e assim por diante. Nestes termos que YAMATO DAMACHI refere-se especificamente ao espírito do Japão, não é necessário para não japoneses entender e sentir isto para compreender e sentir a essência do BUDO. BUDO NO KOKORO, o espírito do BUDO, essencialmente o mesmo que YAMATO DAMACHI, mas este coração e espírito não estão limitados somente ao espírito Japonês. O que quer dizer, este é um espírito universal que será interpretado e reforçado pelo povo em várias culturas de acordo com sua própria história cultural e necessidade. Assim, se uma pessoa estuda os princípios do BUDO – os profundos princípios filosóficos – ele irá adquirir o espírito do BUDO de acordo com o espírito de seu próprio país.
Em outras palavras, eu não vejo razão em falar sobre BUDO para YAMATO DAMACHI Especificamente. Uma pessoa que está treinando no espírito BUDO de auto-sacrifício e abnegação irá adquirir grande conhecimento e benefícios, centrando-se ao redor de sua própria cultura e seu próprio país.
O desenvolvimento do coração ou espírito é um crescimento natural no treinamento do BUDO.

25. HASSEL - Como fazer a estratégia de luta de SEN NO SEN e GO NO SEN conforme o relato do famoso princípio do Mestre Funakoshi KARATE NI SENTI NASHI não há primeiro ataque no KARATE)?
NAKAYAMA - Em meus livros, BEST KARATE, volumes 3 e 4, apresentei as técnicas de Mr. Iida como um bom exemplo de GO-NO-SEN, e as técnicas de Mr. Oishi como o melhor exemplo de SEN-NO-SEN. E o que estes termos exatamente querem dizer – técnicas de combate KARATE NI SENTI NASHI, por outro lado, nada tem a ver com execução de técnicas. Antes de uma declaração de ação para seu espírito ou uma forma de agir, uma advertência para controlar-se e não lutar.
KARATE NI SENTI NASHI quer dizer literalmente que não há o primeiro ataque no KARATE. Mas isto não quer dizer simplesmente que o karateka não fará o movimento inicial para iniciar o combate. Mestre Funakoshi repetidamente nos dizia que também era estritamente proibido o uso desnecessário das técnicas de KARATE. Este espírito está incorporado nos KATAS, que também quer dizer que o karateka não deve nunca agir de maneira que possa criar uma atmosfera de confusão, e evitar lugares onde o perigo possa existir. Se um estudante freqüenta um bar onde brigas ocorrem regularmente e ele é subitamente solicitado a usar suas técnicas de defesa-pessoal, então ele não entendeu o significado de KARATE NI SENTI NASCHI. De verdade, ELE iniciou a briga porque ele sabia que a confusão era comum, e poderia ter evitado o conflito totalmente se ele simplesmente não fosse lá.
KARATE NI SENTI NASCHI é um desejo para harmonizar as pessoas, No KATA KANKU DAI, este desejo de harmonia está simbolizado em seu primeiro movimento, como não há em nenhum outro KATA e que não demonstra diretamente nem ataquem nem defesa. As mãos estão erguidas e unidas acima da cabeça, às palmas para fora, e o karateka olha para o céu através do buraco formado pelos seus dedos e o polegar. Este movimento expressa identificação com a natureza, tranqüilidade de mente e corpo, e desejo de harmonia. O karateka que entende isto terá um coração modesto, uma atitude gentil, e um desejo de harmonia.
No lado técnico, GO-NO-SEN significa que o ataque está vindo, você pode ver isto, e você tentará o contra ataque. SEN-NO-SEN quer dizer que você não dará ao oponente uma chance; você o envolverá de contínuos ataques. Mas estes termos referem-se aos estados psicológicos inerentes em situação de luta. Por exemplo, quando um gato se esconde ou se arma para matar um rato e o faz, o gato está, com efeito, praticando sen-no-sen. Ele não dá chances ao rato para nada. Mas sen-no-sen não se refere especificamente a uma técnica. Isto significa de fato que o gato não dá chances ao rato de fazer nada. GO-NO-SEN não teria significado algum para o gato a menos que ele esteja sendo atacado por um cachorro de 100 pounds. Eu usei esta analogia para mostrar que nenhuma estratégia é melhor que a outra. A estratégia empregada depende da situação e da aplicação psicológica individual. Se uma pessoa é excepcionalmente habilidosa em SEN-NO-SEN, e seu oponente está excepcionalmente preparado em GO-NO-SEN, impossível dizer quem vai vencer. As estratégias são de igual importância e eficiência, dependendo do indivíduo e da circunstância.
Uma outra coisa importante a dizer no KARATE-DO, em adição a “Não há primeiro ataque no KARATE”, “Não há kamae (postura) no KARATE”. Este último dito se aplica diretamente para a atitude necessária nos treinamentos ou lutas atuais. O que isto quer dizer que o estudante não deve retesar o corpo e torna-lo rígido; deve-se estar sempre relaxada e alerta. No Japão, nós dizemos que devemos ser flexíveis como o bambu, que se curva e bate para trás quando o vento bate; aquele que é duro quebra-se com o vento como uma árvore oca e rígida.
Por outro lado, relaxamento não quer dizer falta de atenção. Muitas vezes eu digo aos estudantes que há postura e não há postura. O que eu quero dizer é que há uma postura mental, mas não há postura física. No mais alto grau de desenvolvimento, penso, o karateka deverá ter uma não postura para tudo – não postura para a mente, e não postura para o corpo.
Isto é muito difícil de entender, mas essencial sua aquisição de maneira ordenada para a maestria do KARATE-DO. Estes conceitos foram sumarizados no 17° século pelo monge zen, Takuan Munenori. O que Takuan disse para Yagyu, essencialmente, foi que se você põe sua mente nos movimentos de seu adversário, sua mente ficará presa nos movimento de seu oponente. Da mesma forma, se a mente está fixa na espada de seu adversário, ou em sua própria espada, ou em como cortar seu adversário, ou preocupado se for cortado, se ficar totalmente absorvido em qualquer coisa que prenda a atenção, então a derrota será inevitável. A solução de Takuan para o problema foi que a mente não ficasse em lugar algum – que fique espalhada através de todo o corpo, sem se concentrar em parte alguma. Por aí, ele disse, a mente estará à disposição em qualquer parte em que a situação necessite de imediata atenção. Se os braços precisarem se mover, a mente se moverá também: se as pernas necessitarem se mover, a mente mover-se-á também.
O que ele está dizendo, com efeito, que se a mente está livre (ou em lugar algum), ela estará em todos os lugares.
Esta filosofia vem diretamente de encontro aos objetivos do zen de não ter apego a nada. O “KARA” de KARATE vem do Mahayana Budismo, e também pronunciado KU, que, traduzido para o português, com o significado de vazio (vácuo) ou nada. Este significado original era “estar carente” ou “estar necessitando” (ou também “estar abandonando” ou “se esvaziando”), para chamar o indivíduo a escapar das regras e diferenças entre bom e mau, realidade e ilusão. Isto, de acordo com o Mahayana Budismo, fortalece a ética individual no que diz respeito a se uma pessoa não está presa a nada, ela naturalmente escolherá o bem sobre o mal.
Eu sei que isto é difícil, mas a essência disto é para deixar a mente ir, e agir naturalmente. Quando uma pessoa se senta pela primeira vez na direção de um carro, por exemplo, uma grande atenção deve ser data aos detalhes: “Este é o acelerador, este o breque. Isto o faz andar, isto o faz parar”, e assim por diante. Depois de um tempo, entretanto, nós não precisamos nos preocupar com estas coisas a nível consciente. Nós simplesmente entramos no carro e vamos, e quando queremos nós o paramos, nós naturalmente pomos o pé no pedal do breque.
Este é o mesmo processo que usamos no KARATE-DO. Quando nós começamos os treinamentos, nós respondemos naturalmente, e voamos no adversário. Como nós estudamos postura e técnica, nós criamos estratégias e movimentos, e aprendemos planos para nos defendermos e contra-atacarmos. Mas isto nos tira fora da espontaneidade, e nossas mentes se fixam em posturas específicas, técnicas e estratégias.
Depois de muitos anos de treinamento, nós retornamos para nosso estado natural – transcendendo técnicas e posturas e estratégias, - e nós novamente respondemos sem pensar. Naturalmente, depois de muitas anos de treinamento nós seremos capazes de responder muito mais eficazmente e eficientemente.
O tempo requerido para alcançar uma mente espontânea a qual por sua vez está em nenhum lugar e em todos os lugares uma longevidade, não importa quanto você viva.

26. HASSEL- Como, então o GO-NO-SEM do KARATE se diferencia do conceito bujutsu de SATSUI E KANJIRU?
NAKAYAMA- SATSUI O KANJIRU literalmente quer dizer “estar num estado de neutralização.”, e isto se dirige para uma situação na qual um samurai se esconde, esperando por um inimigo passar. Mas isto não simplesmente com o significado de esperando o inimigo aparecer, isto é mais uma questão de sensibilidade de quando o inimigo está por perto, e matá-lo antes que a luta possa ocorrer. Isto implica que aquele que está escondido não pode ver o inimigo, mas pode perceber ou sentir quando o inimigo está perto e matá-lo antes da luta começar. Se um samurai que está passando está praticando GO-NO-SEM, ele deve também sentir ou perceber quando o ataque está vindo e defender-se.

27. HASSEL- O famoso artista marcial, Yamada Jirokichi, um Mestre de KENDO, disse que as disciplinas modernas do BUDO como KARATE-DO e JUDO estão produzindo experts com um muito estreito conhecimento, e limitada série de habilidades. Ele diz que eles treinam somente uma arma ou somente com técnicas de mãos vazias, como no KARATE-DO, e que os modernos experts dos dias modernos não estão ao nível dos experts de antigamente. Se isto é verdade, porque o SHOTOKAN KARATE-DO não ensina seus estudantes a usar as armas tradicionais para alargas suas bases de conhecimentos e habilidades?
NAKAYAMA- Eu penso que está crítica faz perder o propósito do treinamento do BUDO como oposição para o propósito do treinamento do bujutsu.
O estudo do bujutsu nos tempos feudais encorajava o guerreiro para se tornar o mais proficiente possível no maior número possível de armas. Isto era um acesso fácil para os guerreiros que estavam frequentemente lutando em batalhas e frente a frente com inimigos em situações regulares. Mas o propósito do BUDO não é adquirir um profundo conhecimento com o propósito de lutar, mais que isto, o propósito do BUDO para ganhar um muito, muito profundo conhecimento de sua arte como método para melhorar seu próprio caráter e ver mais claramente e profundamente a natureza de sua própria existência. Mestre Funakoshi, naturalmente, estudou muitas armas como o sai, bo e nunchaku em Okinawa, mas quando ele mudou o KARATE-JUTSU para KARATE-DO, ele seguiu o exemplo de outras formas do BUDO. Que ele interpretou a existência de armas e técnicas, e ele escolhe aquelas técnicas que são fundamentais para o sistema do BUDO e aquelas, se estudadas muito profunda e intensamente, poderiam levar o estudante para o profundo entendimento do eficiente movimento do corpo, defesa pessoal e assim por diante.
Se o propósito do BUDO ir mais profundamente para dentro da vida, então esta aproximação faz sentido. Se você pensa sobre isto logicamente, há simplesmente pouco tempo em nossa vida para se tornar mestre em um grande número de armas ou sistemas ou diferentes artes, é possível se trabalhar bem em um grande número de diferentes coisas, mas impossível tornar-se mestre em todas elas. Nós nos concentramos nas técnicas do KARATE-DO e tentamos verdadeiramente nos tornarmos mestres delas.
Isto é similar para o caminho da medicina ensinado para os doutores hoje. Um médico pode ser um bom prático em várias áreas, mas não pode ser um mestre em todas. Ele não pode se especializar em muitos aspectos da medicina. Aqueles que querem se especializar fincam suas bases primeiro, e então gastam muitos anos na escola estudando intensamente um particular campo como ortopedia, oftalmologia ou cardiologia. Eles se tornam especialistas em seu campo, e têm vastamente maior conhecimento sobre seu campo do que um médico geral. No BUDO, a idéia é a mesma. Nos queremos ter um conhecimento geral, básicas fundamentações sobre o movimento do corpo e defesa pessoal, e então nos especializamos em uma arte particular.
Sua questão tem importância, é fundamental que as pessoas entendam a diferença entre bujutsu e BUDO. No Japão pré-Tokugawa as artes bujutsu eram estudadas amplamente pelos samurais, então, na época Tokugawa, as artes foram separadas tornando-se distintas, artes individuais, com a espada, lança, e ninjutsu, com o propósito de adentrar mais profundamente dentro destas artes para pesquisar suas características com perfeição, e para individualmente estudar as artes e eleva-las para o mais alto nível de desenvolvimento. A mesma coisa aconteceu em Okinawa, onde os primeiros mestres de “mãos Chinesas” (TODE) estudaram muitas coisas, de socos e chutes até arremesso de faca, então eles separaram as artes e muitos estudaram um tipo enquanto outros se especializaram em outros.
O outro ponto importante é que as idéias fundamentais da maioria das formas de BUDO são as mesmas. Assim, Mestre Funakoshi tinha estudado o uso de armas, e eu também, como um assunto a mais, e os movimentos e técnicas do SHOTOKAN KARATE-DO são baseadas em movimentos aproximados aos usados pelas armas – bo, sai, lança e ao outras, então, se alguém estuda e adquire a maestria das técnicas do KARATE-DO, ele será capaz de com melhores condições, facilmente pegar as técnicas destas armas. E eu quero enfatizar que não há nada errado em ficar praticando e explorando os conhecimentos destas técnicas ou outras artes marciais, mas é essencial nunca perder de vista os propósitos do treinamento do BUDO, é melhor, creio eu, concentrar-se em tentar a maestria de uma arte por completo, e isto demanda uma vida de seriedade e árduo trabalho.

28. HASSEL- Nós sabemos que no KARATE SHOTOKAN há 15 KATAS básicos – 5 HEIAN, 3 TEKKI, BASSAI-DAI, KANKU-DAI, JION, JUTTE, EMPI, HAGETSU e GANKAKU – mas os estudantes da JKA praticam um outro conjunto de outros KATAS, também. E em outras escolas de SHOTOKAN, muitos dos estudantes praticam o TAIKYOKU e TEM-NO-KATA. O Sr. Poderia nos contar de onde vieram estes outros KATAS e porque somos levados a praticá-los?
NAKAYAMA- A origem precisa de muitos destes KATAS estão perdidas nos mistérios da história. No entanto, para ter um exemplo, o KATA que nós chamamos de KANKU-DAI era primeiramente chamado KUSHANKU e nós o praticamos exatamente da maneira como Mestre Funakoshi o interpretou. Mas ele deriva de uma forma originalmente chamada KOSHUKON, e se credita este KATA aos ensinamentos de um grupo de chineses a muitos Okinawanos. Muitas, muitas pessoas aprenderam este KATA e então foram tomando caminhos diferentes, desenvolveram e estudaram suas próprias formas. Antes de tudo, eles mudaram as formas básicas do KATA para corresponder melhor ao seu estilo particular ou sua estrutura corporal individual ou necessidades particulares.
Consequentemente existe, e são agora, muitas formas diferentes de KATA, KOSHUKON. O mesmo é verdade para o BASSAI-DAÍ. Há muitas versões de BASSAI quanto há no KOSHUKON. O famoso mestre Matsumura, era notável por sua prática e desenvolvimento do BASSAI, e muitos aprenderam o KATA dele. Novamente, estes indivíduos em muitos casos mudaram o KATA para se acertar à suas próprias necessidades, e hoje o número de diferentes versões de BASSAI são provavelmente centenas. Mas Mestre Funakoshi mudou a forma do KATA naquelas partes onde sentiu que poderia ser mais eficiente, e nós praticamos esta forma de KATA, então o KATA que chamamos de KANKU-SHO e BASSAI-SHO são simplesmente conhecidas variações do KATA original, KANKU e BASSAI.
A forma que eles vieram a ser praticados entre os alunos de Mestre Funakoshi é realmente um assunto de grande interesse ou significância. Isto é uma questão de natureza humana. Muitos destes antigos estudantes, líder entre eles estava o filho de Mestre Funakoshi, Yoshitaka, de tempos em tempos, praticaria muitas das versões que ele tinha aprendido em algum lugar, e os jovens estudantes ficavam fascinados. Nós imitávamos nossos seniores e lhes perguntávamos se poderiam nos ensinar estas formas diferentes. Eles poderiam nos ensinar, mas sempre nos diriam, “Não há nada de errado com a prática de outras formas, mas lembre-se que vocês devem sempre se concentrar no domínio das 15 formas básicas. Elas têm tudo de que vocês necessitam para o total conhecimento do KARATE, e não devem negligenciá-las.”.
Um KATA que foi desenvolvido e introduzido por Yoshitaka Funakoshi, por exemplo, foi o SOCHIN, SOCHIN era sua especialidade, e nós o aprendemos dele, mas não é um dos 15 KATAS essenciais.
Mestre Funakoshi provavelmente considerava nosso desejo para aprender estes outros KATAS como exuberância juvenil, mas não há prejuízo em adquirir idéias de diferentes KATAS, proveitoso, mas não essencial segundo Mestre Funakoshi.
Muitos deste KATAS vieram para dentro do sistema JKA porque Mestre Funakoshi levou-me ao redor do Japão para visitar e retribuir a gentileza de convites de outros velhos mestres em Osaka, Kyoto, Okuyama, e Hiroshima. Nós deveríamos trocar idéias com estes mestres, e eles estavam naturalmente, ansiosos para aprender os KATAS de Mestre Funakoshi. Houve uma vez, eu me lembro, quando íamos visitar o fundador do SHITO RYU KARATE-DO, Henwa Mabuni. Bem, Mestre Funakoshi já havia estudado os estilos de KARATE GOJU e SHITO e tinha incorporado os elementos básicos destes estilos dentro do SHOTOKAN. O KATA HEGETSU, por exemplo, é essencialmente um KATA do estilo GOJU. Se alguém pratica o HANGETSU, torna-se fácil exercitar o KATA GOJU TENSHO e SANCHIN, GANKAKU e EMPI, por outro lado são essencialmente do estilo SHORIN. Mas Mestre Funakoshi nunca parou seus estudos de outras formas de KARATE, e quando nós visitamos Mestre Mabuni, Mestre Funakoshi disse-me para aprender GOJUSHIHO e NIJUSHIHO até nós poderíamos estudá-los mais cuidadosamente. Então Kenwa Mabuni ensinou-me estes KATAS. Assim como um natural resultado de nossos estudos destes KATAS, o KATA eventualmente mudou suas formas para conforme os movimentos do KARATE SHOTOKAN, e são agora praticados por muitos de nossos membros.
Mas a coisa mais importante que gostaria de dizer sobre tudo isto é que me considero um homem felizardo por estar consciente de tudo isto. Eu fui muito afortunado por treinar sob os cuidados do Mestre Funakoshi! Sua genialidade vinha de seu profundo saber e de seu julgar. Ele literalmente criou o KARATE SHOTOKAN de elementos de todos os diferentes estilos de KARATE existentes. SHOTOKAN contém elementos tanto do GOJU-RYU e SHITO-RYU, e se uma pessoa devota seus estudos para aprender os 15 KATAS de Mestre Funakoshi, ele será capaz de facilmente compreender a essência de muitos outros estilos de KARATE. Mestre Funakoshi estava olhando para o futuro quando criou o SHOTOKAN – olhando para o dia em que o KARATE seria um só – e nós sempre estaremos em débito para com ele por seu trabalho.

29. HASSEL- Sensei, o Sr. Disse que Mestre Funakoshi ensinou a seus estudantes HEIAN, TEKKI, então BASSAI e KANKU, e então mudava para outro KATA?
NAKAYAMA- Sim. O primeiro KATA aprendido era sempre o HEIAN SHODAN.

30. HASSEL- O Sr. Poderia explicar, então de onde vem o KATA praticado por muitas outras escolas de SHOTOKAN – TAIKYOKU-NO-KATA e TEM-NO-KATA – qual sua origem?
NAKAYAMA- Mestre Funakoshi nunca nos ensinou estas formas. Eles foram criados como métodos básicos de treinamento por Yoshitaka Funakoshi e Genchin Hironishi, mas eles nunca forma ensinados pelo Mestre Funakoshi. Os princípios destas formas não se ajustam aos princípios do KATA. Eles não são KATA, eles são métodos básicos de treinamento. Mas eles nunca foram ensinados pelo Mestre Funakoshi.
O propósito destas formas era preparar um método básico de treinamento para ser usado antes dos estudantes aprenderem o KATA HEIAN. Mas tanto antes quanto depois de minha viagem para a China, eu treinei com Mestre Funakoshi virtualmente todos os dias, e ele nunca mencionou TAIKYOKU ou TEM-NO-KATA.
Se isto é uma questão de interesse eu gostaria de apontar para o texto oficial do Mestre, KARATE-DO KYOHAN. Se ele quisesse que nós soubéssemos estas formas, porque ele não os colocou no KARATE-DO KYOHAN?

31. HASSEL- Sensei, estas formas aparecem na versão inglesa do KARATE-DO KYOHAN.
NAKAYAMA- Realmente? Eu nunca lia a versão inglesa, mas eu posso lhe dizer que eles positivamente não estão na versão original japonesa.

32. HASSEL- Sensei, muitos destes últimos 20 anos têm sido dedicados para o desenvolvimento do esporte KARATE e hoje há torneios em todos os lugares, virtualmente o tempo todo. O futuro do KARATE-DO, em sua opinião, gira em torno do conceito de esporte KARATE e seu contínuo desenvolvimento?
NAKAYAMA- O KARATE alcançou seu presente alto nível de desenvolvimento porque seus praticantes têm seguido exatamente os princípios de Mestre Funakoshi. A coisa mais importante tem sido, e continuará a ser, a prática vigorosa, saudável e forte, um KARATE fundamentalmente com o propósito da educação física, de defesa pessoal, e a disciplina espiritual. O treinamento do KARATE para o desenvolvimento do indivíduo – emocionalmente, fisicamente, e espiritualmente.
O torneio de KARATE existe para divulgar o KARATE mais amplamente para o público em geral. O esporte é uma boa maneira para se fazer isto. Prova ao público que nós não somos um punhado de matadores maldosos e imperfeitos, e ainda mostra a eles que qualquer um pode participar no KARATE, e, se eles desejam, competem com segurança.
Agora se nós concentramos todo o desenvolvimento do KARATE ao redor do esporte, nós perderemos nossa essência como uma arte marcial, e obviamente, não quero que isto aconteça. Quero que o KARATE continue seu desenvolvimento através das mesmas idéias e com os mesmos métodos que nós tivemos no passado.
Antes dos estudantes competirem eles deveriam trabalhar arduamente e consistentemente para adquirir uma forte fundamentação das bases e um profundo conhecimento dos princípios espirituais do KARATE.
Na minha época, veja você, nós não tínhamos torneios ou competições de espécie alguma. Nossa única competição era com a gente mesmo, e este era o caminho que deveríamos seguir. Nós nunca treinávamos para conseguir um ponto em um torneio. Nosso treinamento era essencialmente orientado para o makiwara, e gastávamos horas e horas aprendendo como usá-lo. Nós deveríamos começar batendo umas poucas vezes e gradualmente se desenvolvendo para o instante em que poderíamos golpear em valores de 1000 vezes sem danos ou injúrias. Nós geralmente fazíamos um aquecimento de aula socando o makiwara 500 ou 1000 vezes. Nosso único interesse naqueles dias era o desenvolvimento de técnicas fortes, e acredito que é como deveria ser. Um sparring ensinará aos estudantes tempo e distância, mas não há nada como o makiwara para desenvolver um corpo forte e resistente. Sempre encorajo todos os estudantes a forjar seus próprios músculos e talhá-los no makiwara todo o dia.

33. HASSEL- Com esta filosofia como base, como, então o KARATE ESPORTE veio ocupar um lugar de tal importância no KARATE moderno?
NAKAYAMA- Como mostrei anteriormente, no início dos meus estudos eu e muitos de outros jovens estudantes queríamos alguma forma de combate porque já tínhamos um prévio treinamento no KENDO e JUDO. Nós não estávamos satisfeitos com KATA o tempo todo. Mesmo ainda que relutante, Mestre Funakoshi gradualmente começou a nos introduzir no 5 passos (GOHON-KUMITE), 1 passo (IPPON-KUMITE), e finalmente no combate livre. Eu não acho que ele especialmente gostava de fazer isto, porque ele era muito severo no ponto que o KARATE ”não era uma bárbara arte de combate”. De outro lado, ele compreendeu que a nova geração queria ter alguma coisa a mais, e ele também queria o KARATE ocupando uma posição igual ao JUDO e o KENDO.
Em 1935, vários clubes de escolas em todo o Japão estavam num estado que chamamos de KOKANGEIKO (troca de cortesias e práticas). Estas trocas foram pensadas em termos de práticas de KATA e 1 passo, com ataques pré-arranjados e defesas que geralmente acabavam em disputas. Eu vi nariz e mandíbulas quebradas, dentes arrancados e muitas orelhas partidas.
Eu estava dividido entre a crença que o KARATE fosse qualquer coisa que pareça confronto. Com efeito, nosso torneio em 1957 foi o primeiro campeonato de KARATE do mundo.
Meu grande interesse naquela época era assegurar que o KARATE, se déssemos um aspecto esportivo, não perdesse sua essência como arte. Portanto trabalhei muito projetando a competição de KATA, e norteei as regas, nas regras da patinação e da ginástica. Minha esperança era preservar a essência do KARATE-DO como uma arte de defesa-pessoal e abnegação, e para prevenir “a excitação de confrontar” que provém da transformação do KARATE em mero esporte.

34. HASSEL- Qual, então, sua opinião do moderno, FULL-CONTACT KARATE?
NAKAYAMA- O FUL-CONTACT KARATE na América e Europa certamente tem um lugar no mundo do KARATE, mas ele não é KARATE-DO.
DO significa “caminho” ou “trilha”, e isto significa que a arte é um veículo para o aperfeiçoamento do caráter humano. O que é mais importante para entender que esta busca do melhor caráter, não uma meta temporária ou transitória. Ele é um longo processo de vida que deve ser buscado todos os dias através dos treinamentos.
O esporte desenvolve os contendores numa linha estreita. O que significa, eles treinam muito a parte física até se tornarem fortes, e então competem. Como eles competem, eles se tornam cada vez mais fortes, e se tornam campeões. Mas depois de um certo número de anos, o corpo começa seu declínio, e os contendores já não podem competir eficientemente. Uma pessoa progride firmemente através de um ideal limitado o qual é alcançado no auge da juventude, e então a idade traz consigo um declínio vertical. KARATE-DO, por outro lado, não tem semelhante limitação de ideal como de conquistar competições, e o progresso humano na arte é como escalar uma série de degraus ou caminhar num desfiladeiro. Com a mente e o corpo crescem juntos, o estudante move continuamente para frente e para cima, um passo de cada vez. Assim quando o corpo declina, há ainda outro passo para adiante na busca da perfeição do caráter. Até o dia de sua morte, o processo é limitado, porque ninguém é perfeito, mas nós podemos todos nos tornar um pouco melhor e continuarmos tentando.
FULL-CONTACT KARATE é como Boxing que é baseado todo ele na força – o mais forte vence. Ao mesmo tempo em que não há nada de errado com isto, e certamente não há nada de errado com o contato, isto é muito importante, acredito, desenvolver o espírito humano através do controle das técnicas. Este é um dos pilares da competição do KARATE-DO. Para que se execute uma veloz e vigorosa técnica e a paremos com perfeito controle e precisão, exige-se total controle da mente. No esporte, a ênfase total controle da mente. No esporte, a ênfase está num corpo forte: no KARATE-DO a ênfase está na mente. Todas as coisas começam e acabam na mente, e isto dá ao Karateka qualidades que ele pode levar no seu dia a dia e usa-a para seu benefício. Este controle também capacita o Karateka a controlar seus golpes com toda sua força se necessário. Numa situação de defesa pessoal, o Karateka inteiramente treinado poderá sempre encontrar a distância correta, e o correto uso da força será liberado no alvo.

35. HASSEL- O senhor acha que o KARATE poderá ser Olímpico?
NAKAYAMA: Não me oponho ao KARATE se tornar Olímpico, mas tenho sérios assuntos sobre as conseqüências disto. Considere o que aconteceu para o JUDO quando se tornou esporte Olímpico. Mesmo mantendo suas estruturas como uma arte marcial, o JUDO mudou para se adaptar à estrutura das Olimpíadas. A Kodokan perdeu o controle da arte, e os estudantes começaram a treinar exclusivamente para adquirir a destreza competitiva que os tornaria capazes de competir numa Olimpíada. Isto tem provocado um efeito devastador no JUDO do Japão, e seus líderes estão agora num período de árdua auto-examinação. Eles estão frente a um real dilema tentando trazer de volta o JUDO para suas origens como arte marcial que pode ser praticada por qualquer um – jovem ou velho, homem, mulher ou criança. O aspecto esportivo se tornou um ato de sobrepujar outros de grande parte de judokas, e isto não está de acordo com os princípios de Jigoro Kano (o fundador do JUDO).
Assim, acredito que se o KARATE entrar para as Olimpíadas, será bom providenciar para que o KARATE não perca sua essência como uma arte marcial – um caminho de vida que pode ser praticado por qualquer pessoa. Se puder acontecer assim, tudo estará certo. Mas tenho sérias considerações sobre isto, e certamente não penso que ganhar o reconhecimento Olímpico seja nossa menta principal.

36. HASSEL- Sensei, justo na JKA hoje vemos competidores usando protetores em suas mãos. Isto não está levando um tanto quanto para longe dos conceitos originais do KARATE como arte marcial e mudando a arte para um esporte?
NAKAYAMA- Atualmente, penso que isto poderá ajudar a delinear mais claramente a diferença entre esporte KARATE e bases, o KARATE fundamental. Realisticamente, se nós formos ter confrontos esportivos, então nós devemos fazer todo o possível para que seja com segurança. E há pouca dúvida que o KARATE vá crescer no futuro, e provavelmente um dia se torne um esporte Olímpico. Quando isto acontecer, nós deveremos estar preparados para mostrar ao Comitê Olímpico que nós temos proteções contra injúrias. Leves protetores de mão são um passo nesta direção, e não penso que eles mudem significantemente a face do KARATE como arte marcial. Eles são simplesmente um invento para a prática segura do esporte competição.
Como via de regra, eles não são geralmente usados na JKA excepcionalmente em confrontos de equipes em determinados torneios.

37. HASSEL - Qual sua esperança para o KARATE para daqui a 10 anos?
NAKAYAMA - Espero que daqui a 10 anos, as pessoas entendam que KARATE é uma arte marcial e que eles ainda o pratiquem em suas bases verdadeiras, como educação física, como defesa pessoal, e como um método de desenvolvimento espiritual.
Particularmente na área do esporte, espero que os contendores não o treinem simplesmente para ganhar um ponto. Espero ainda que eles se lembrem das bases do KARATE como um meio de vida e treinem o básico e busquem o IKKEN HISATSU – para o oponente com um golpe. Espero que eles pratiquem para ter um golpe forte e um chute forte. Se eles continuarem a treinar neste sentido, eles serão capazes de controlar suas técnicas. Se praticarem simplesmente para conseguir pontos, entretanto, nunca serão capazes de controlar suas técnicas ou a eles próprios. Esse tipo de treinamento os levará para muitos prejuízos.
No futuro o KARATE será como foi no passado. Isto é, estudantes que treinam seriamente sob os cuidados de um bom instrutor primeiro irão adquirir boa saúde dos exercícios físicos. Este treinamento os levará apara fortes técnicas básicas e boa habilidade na defesa pessoa. Depois que estes dois fatores tiverem sido obtidos, então não haverá nada de errado em competir para testar-se com outros – técnica contra técnica, espírito contra espírito. Treinando desta forma leva-se para uma boa competição ou torneio no qual os contendores exibem um KARATE real, verdadeiro.
Assim, quando digo que o KARATE possui três aspectos, digo que isto é aplicável como educação física, como defesa pessoa e como um novo estilo de arte marcial – esporte. Subjacente a todos estes aspectos as bases fundamentais do KARATE servindo o indivíduo para o desenvolvimento espiritual. Todas as modernas artes marciais, como JUDO, por exemplo, têm esta conduta, também originalmente, quando as técnicas de KARATE foram primeiro desenvolvidas, o raciocínio era muito simples nós estamos frente a frente, e então ou você me mata ou eu vou te matar. Estas artes nasceram em épocas de guerra. Nos tempos modernos, entretanto, nós não estamos face às mesmas situações como aquelas que primeiro usamos para autoproteção.
O desenvolvimento do BUDO em oposição ao bujutsu recai sobre o princípio do forte desenvolvimento espiritual e na firmeza do caráter. Este é o real valor do BUDO para a existência humana. A coisa mais importante para as futuras gerações terem em mente é que o KARATE serve para desenvolver uma filosofia, uma prática de vida. Se isto for primeiro desenvolvido nos contendores, não haverá problema com as competições esportivas. Nós devemos simplesmente ter em mente nossos propósitos fundamentais.

38. HASSEL - Virtualmente todos os instrutores da JKA no Ocidente, todos Japoneses e Americanos, dizem a mesma coisa que o Sr. Está dizendo sobre a importância de estudar o KARATE-DO como um modo de vida e desenvolvimento espiritual, mas é muitas vezes difícil de compreender este profundo desenvolvimento continuando no dojo. Em outras palavras, nós falamos sobre desenvolvimento espiritual, mas parece ter lugar uma espantosa ênfase no esporte. Vinte anos atrás, por exemplo, havia muito pouca ênfase no combate livre para competição, e uma grande ênfase para o IPPON-KUMITE e o JYU-IPPON-KUMITE. O Sr. Pensa que estamos nos movendo na direção certa neste momento, ou estamos nos afastando dos ideais do treinamento do KARATE como o Sr. Os compreendeu?
NAKAYAMA - Eu penso que este é um tempo de extrema dificuldade para o KARATE-DO e para aqueles que estão tentando ensina-lo corretamente. Nós estamos no ponto principal na história do desenvolvimento da arte e, de uma forma ou de outra, penso que as coisas estão progredindo de uma forma correta. O que devemos entender é que, do ponto de vista da história, não há muitos anos atrás o KARATE era praticado somente em completo segredo. Não penso que era muito melhor para a arte do que treinar somente para a competição possa ser. O ponto é que os tempos mudaram, as circunstâncias mudaram, e as pessoas se ajustam às suas artes para estes tempos e circunstâncias.
O que nós precisamos, acredito, é um equilíbrio em todas as coisas que fazemos. O esporte KARATE é uma inovação, e requer muito mais tempo antes que possamos assimilá-lo completamente e nos ajustar para isto.
Penso que os instrutores na JKA, tanto no Japão quanto na América, estão fazendo um bom trabalho estudando os aspectos esportivos da arte e estão transmitindo-o da forma correta. O que precisamos é de tempo. No momento certo, tanto quanto mais estivermos ligados aos princípios fundamentais do Mestre Funakoshi, nós encontraremos o equilíbrio entre o esporte competição e o treinamento básico.

39. HASSEL - A maioria dos instrutores certamente concordarão que este é um tempo difícil para ensinar KARATE-DO. Qual o conselho específico que o Sr. pode lhes dar para ajuda-los a realizar suas tarefas eficientemente?
NAKAYAMA - Posso lhes dizer, não mais que, manter-se treinando diligentemente em sua arte e manter sua mente focada nos princípios do Mestre Funakoshi de um KARATE como um caminho de vida. Se eles fizerem isto, terão sucesso. Francamente, tanto quanto mais os instrutores processem desta forma, não tenho dúvidas sobre o futuro do KARATE-DO.

40. HASSEL - O Sr. Disse que os tempos estão mudando, e que nós devemos procurar um balança entre todos os aspectos da arte. Isto significa, então, que os instrutores deveriam ensinar os preceitos básicos do KUMITE como IKKEN HISATSU (parar o oponente com um único golpe) separadamente do KUMITE para competição? Em outras palavras, há diferença entre combater no dojo no treinamento diária e combater em competição?
NAKAYAMA - Não, absolutamente não. No sentido de HEIJO-SHIN KORO MICHI, que expliquei anteriormente, o Karateka deve treinar diariamente e estar preparado o tempo todo para fazer aquilo que for necessário. Ele deve estar calmo e atento, enquanto ele treina no dojô, fazendo seu desjejum, ou competindo no SHIAI. Se nós treinamos seriamente no dojo, aprendendo e aplicando os princípios básicos, então nós estaremos prontos para qualquer coisa que aconteça, o tempo todo.
O correto treinamento sob as diretrizes dos princípios do KARATE torna o Karateka apto a andar fora do dojo e defender-se se necessário, ou sair do dojo para uma competição de SHIAI. Se os princípios básicos estão corretos, não fará diferença o que o Karateka estiver fazendo. Os princípios são os mesmos, e eles servem o Karateka bem o tempo todo, em qualquer circunstância. Eu sei que isto é difícil para compreender e muito mais difícil par ensinar, mas não deve haver separação das técnicas entre as categorias de defesa pessoal, esporte, e assim por diante. Considere que técnica é técnica, e se o Karateka está treinando adequadamente, ele será capaz de usar seus treinamentos para se defender e para competir. Se um estudante está treinado somente para competição, por exemplo, e ele é surpreendido enquanto caminha para o local de torneio, ele estará em sérios apuros. Não parece ridículo – um campeão de torneio que não pode se defender numa real situação? KARATE-DO serve para desenvolver o indivíduo como um todo, e este indivíduo que deve responder por qualquer situação que surja. Se ele pode somente responder em um torneio, há alguma coisa drasticamente errada com seu treinamento.

41. HASSEL - Finalmente, Sensei, se o Sr. permitisse um tempo para dizer somente mais uma coisa para as pessoas que estão treinando no KARATE da JKAS hoje, ambos alunos e instrutores, o que o Sr. Diria para eles?
NAKAYAMA - Eu lhes diria para meditar nas palavras de Anton Geesink, o holandês que derrotou os japoneses e venceu o Campeonato Mundial de Judô. Geesink enfrentou e venceu o maior competidor de JUDO Japonês, e ele sacudiu as próprias bases das artes marciais japonesas. Era impensável que um jovem Europeu pudesse habilidosamente e claramente destruir os mestres japoneses em sua própria arte. Mas foi exatamente o que ele fez.
Eu me lembro que os líderes do JUDO e de muitas outras artes marciais no Japão ficaram num tremendo alvoroço, e fizeram um elaborado e detalhado plano para estudar os “segredos” de competição de Geesink. Ultimamente, eles arranjaram para um jornalista japonês uma entrevista profunda com Geesink para tentar descobrir os métodos de treinamento que este homem tinha usado para derrotar o japonês. A resposta de Geesink foi talvez a mais importante declaração que eu tenha ouvido em todos os meus anos no KARATE-DO, e nunca vou me esquecer. Ele disse: “Os japoneses têm se dedicado para o estudo do JUDO competição. Eles têm dado extraordinários avanços para desenvolver contendores vencedores e times campeões. Eu, por outro lado, nunca treinei para competição em minha vida. Tudo o que tenho feito é treinar JUDO como uma filosofia de vida, exatamente como Dr. Kano disse. Enquanto os Japoneses estavam planejando estratégias competitivas, eu estava no dojo, praticando fundamentos e KATAS. Eu derrotei o Japonês porque EU SABIA JUDO MELHOR QUE O JAPONÊS. “O segredo é treinar todos os dias nos princípios. Isto o tornará invencível “.