Gilberto Antônio Silva
Esse texto foi publicado originariamente na revista Oriente número 2, já há vários anos. De lá para cá, infelizmente, pouca coisa mudou e os enganos persistem. Resolvi, então, rever e ampliar aquele texto e publicá-lo novamente, dessa vez na Internet. Espero que apreciem.
Nesses anos de estudos em Filosofia Oriental e Artes Marciais, já me deparei com uma série enorme de idéias errôneas ou mal-concebidas a respeito destes assuntos. Às vezes é uma pessoa que não sabe bem o que está falando por ter um entendimento superficial do assunto e outras é por ter sido mal-informada em livros, cursos ou pelo seu próprio professor.
Uma das coisas que mais me aborrece é quando encontro alguém que não sabe a diferença entre religião e filosofia. Este tipo de pessoa acha que artes marciais é algum tipo de culto oriental (satânico, claro), ou que busca uma certa "Iluminação", que todos falam mas ninguém sabe exatamente o que seja. Vamos dar nomes aos bois.
UMA MÁ NOTÍCIA
A notícia ruim é que se você procurou a arte marcial para atingir algum tipo de "Iluminação" ou "chegar a Deus", embarcou numa canoa furada. O objetivo do Caminho Marcial não é este, em absoluto. Nas artes marciais buscamos um aprimoramento do corpo e da mente para, aí sim, buscar alguma coisa mais. Claro que isso não deixa de ser uma coisa muito boa. Mas não se deve confundir o meio com os fins. As artes marciais são uma das melhores ferramentas que existem para qualquer tipo de busca espiritual, pois aperfeiçoam os sentidos e aguçam a sensibilidade do praticante
A notícia ruim é que se você procurou a arte marcial para atingir algum tipo de "Iluminação" ou "chegar a Deus", embarcou numa canoa furada. O objetivo do Caminho Marcial não é este, em absoluto. Nas artes marciais buscamos um aprimoramento do corpo e da mente para, aí sim, buscar alguma coisa mais. Claro que isso não deixa de ser uma coisa muito boa. Mas não se deve confundir o meio com os fins. As artes marciais são uma das melhores ferramentas que existem para qualquer tipo de busca espiritual, pois aperfeiçoam os sentidos e aguçam a sensibilidade do praticante
UMA BOA NOTÍCIA
Você pode praticar artes marciais e estudar filosofia e cultura oriental independente da sua religião, qualquer que ela seja. Sem conflitos nem querelas. Muitas pessoas deixam de enriquecer suas vidas com a filosofia das artes marciais por acreditarem que isso se chocará com suas crenças religiosas. De modo algum. Para isso devemos saber o que é religião e o que é filosofia.
Você pode praticar artes marciais e estudar filosofia e cultura oriental independente da sua religião, qualquer que ela seja. Sem conflitos nem querelas. Muitas pessoas deixam de enriquecer suas vidas com a filosofia das artes marciais por acreditarem que isso se chocará com suas crenças religiosas. De modo algum. Para isso devemos saber o que é religião e o que é filosofia.
RELIGIÃO
Embora muitos afirmem que a palavra religião vem do latim religare, que significaria religar a pessoa com Deus, o dicionário Caldas Aulete nos dá a raiz relígio como a precursora de religião. Segundo o dicionário latino-português de Geraldo de Ulhoa Cintra e José Cretela Jr., Cícero usava este termo para significar culto, cerimônias religiosas, escrúpulo de consciência ou ainda profanação (ausência de relígio). Justinus a usava com o sentido de superstição e o poeta Virgílio, como o medo que infunde as coisas religiosas. Como vemos, nenhuma alusão à juntar ou unir. Minha concepção de religião é aproximadamente a mesma do dicionário da língua portuguesa já citado. Para mim, religião é um conjunto de crenças, dogmas e cerimônias que são utilizadas para se tentar alcançar um Ente Superior ou Divindade.
Gostaria de acrescentar que religião é uma coisa muito pessoal, onde cada ser humano possui a sua própria. Duvida? O que acha da pessoa que de manhã vai a um centro espírita fazer estudos e tomar passes e à noite vai à missa na igreja Católica? Esse tipo de sincretismo é característico do povo brasileiro, mas não apenas dele. Se perguntar a um chinês qual a sua religião, ele ficará confuso. Dificilmente uma pessoa possui uma única crença, mas sim uma mistura sutil de várias delas, embora normalmente ninguém confesse uma coisa destas, optando por uma colocação mais fácil: "sou católico" (mas a última vez que comunguei foi na Páscoa de 1972…)
Embora muitos afirmem que a palavra religião vem do latim religare, que significaria religar a pessoa com Deus, o dicionário Caldas Aulete nos dá a raiz relígio como a precursora de religião. Segundo o dicionário latino-português de Geraldo de Ulhoa Cintra e José Cretela Jr., Cícero usava este termo para significar culto, cerimônias religiosas, escrúpulo de consciência ou ainda profanação (ausência de relígio). Justinus a usava com o sentido de superstição e o poeta Virgílio, como o medo que infunde as coisas religiosas. Como vemos, nenhuma alusão à juntar ou unir. Minha concepção de religião é aproximadamente a mesma do dicionário da língua portuguesa já citado. Para mim, religião é um conjunto de crenças, dogmas e cerimônias que são utilizadas para se tentar alcançar um Ente Superior ou Divindade.
Gostaria de acrescentar que religião é uma coisa muito pessoal, onde cada ser humano possui a sua própria. Duvida? O que acha da pessoa que de manhã vai a um centro espírita fazer estudos e tomar passes e à noite vai à missa na igreja Católica? Esse tipo de sincretismo é característico do povo brasileiro, mas não apenas dele. Se perguntar a um chinês qual a sua religião, ele ficará confuso. Dificilmente uma pessoa possui uma única crença, mas sim uma mistura sutil de várias delas, embora normalmente ninguém confesse uma coisa destas, optando por uma colocação mais fácil: "sou católico" (mas a última vez que comunguei foi na Páscoa de 1972…)
FILOSOFIA
Filosofia é uma palavra grega que significa "amigo da sabedoria" (philos= amigo, sophia= sabedoria). Para os gregos, o filósofo era alguém que pesquisava o porquê das coisas, estabelecendo leis que explicavam os acontecimentos da Natureza e do Homem. No mesmo dicionário aparece como definição de filósofo: "o que ama a sabedoria; .....; o que se dedica ao estudo e investigação dos princípios e causas gerais e suas relações com os efeitos; o que segue unicamente os ditames da razão e se não deixa levar pelos sentimentos; o que procede sempre com sabedoria e refletidamente". Ora, os primeiros cientistas ocidentais foram os filósofos gregos!
Então podemos colocar, sem problemas, que a filosofia é uma coisa LÓGICA, que pode ser estudada e pesquisada, sem que se necessite de uma crença ou fé. É algo que pode ser discutido com outras pessoas e se utilizar de argumentos sólidos para as colocações. Muitas vezes não encontramos as palavras necessárias, principalmente em se tratando de filosofias orientais, mas é apenas porque as colocações muitas vezes não fazem parte de nossa cultura ou as pessoas que discutem não possuem a mesma experiência. Nossos conceitos são formados com base em nossas experiências, sejam físicas ou intelectuais.
Filosofia é uma palavra grega que significa "amigo da sabedoria" (philos= amigo, sophia= sabedoria). Para os gregos, o filósofo era alguém que pesquisava o porquê das coisas, estabelecendo leis que explicavam os acontecimentos da Natureza e do Homem. No mesmo dicionário aparece como definição de filósofo: "o que ama a sabedoria; .....; o que se dedica ao estudo e investigação dos princípios e causas gerais e suas relações com os efeitos; o que segue unicamente os ditames da razão e se não deixa levar pelos sentimentos; o que procede sempre com sabedoria e refletidamente". Ora, os primeiros cientistas ocidentais foram os filósofos gregos!
Então podemos colocar, sem problemas, que a filosofia é uma coisa LÓGICA, que pode ser estudada e pesquisada, sem que se necessite de uma crença ou fé. É algo que pode ser discutido com outras pessoas e se utilizar de argumentos sólidos para as colocações. Muitas vezes não encontramos as palavras necessárias, principalmente em se tratando de filosofias orientais, mas é apenas porque as colocações muitas vezes não fazem parte de nossa cultura ou as pessoas que discutem não possuem a mesma experiência. Nossos conceitos são formados com base em nossas experiências, sejam físicas ou intelectuais.
RELIGIÃO E FILOSOFIA
Pelo que acabei de mostrar, nem toda filosofia é necessariamente uma religião, mas toda religião tem uma filosofia predominante, um conjunto de regras e leis que determinam o funcionamento do Universo.
Quando se estuda filosofia oriental se estuda o conjunto de conceitos e leis de determinadas linhas de pensamento formuladas ao longo dos séculos. E isto nada tem a ver com religião! Por exemplo, se você estudar a filosofia budista achará as Quatro Nobres Verdades e o Óctuplo Caminho, que são como normas de conduta para que você possa viver melhor. Você não acendeu nenhum incenso até agora, não é? Acontece que, devido às divergências de opinião que existem em qualquer ser humano, as pessoas passaram a usar este conhecimento de maneiras diversas. Assim apareceram as duas grandes correntes budistas: o Grande Caminho e o Pequeno Caminho. Já no Tibete surgiu o Budismo Tibetano ou Lamaismo, que se subdividiu em Chapéus Vermelhos e Chapéus Amarelos, principalmente. E na China temos o Budismo Ch'an, que se tornou o Zen Budismo japonês. E, com o acréscimo de rituais, sacerdotes e lendas, o budismo virou religião! Mas todos seguem a mesma idéia principal: os ensinamentos de Gautama, o Buda. A sua
Pelo que acabei de mostrar, nem toda filosofia é necessariamente uma religião, mas toda religião tem uma filosofia predominante, um conjunto de regras e leis que determinam o funcionamento do Universo.
Quando se estuda filosofia oriental se estuda o conjunto de conceitos e leis de determinadas linhas de pensamento formuladas ao longo dos séculos. E isto nada tem a ver com religião! Por exemplo, se você estudar a filosofia budista achará as Quatro Nobres Verdades e o Óctuplo Caminho, que são como normas de conduta para que você possa viver melhor. Você não acendeu nenhum incenso até agora, não é? Acontece que, devido às divergências de opinião que existem em qualquer ser humano, as pessoas passaram a usar este conhecimento de maneiras diversas. Assim apareceram as duas grandes correntes budistas: o Grande Caminho e o Pequeno Caminho. Já no Tibete surgiu o Budismo Tibetano ou Lamaismo, que se subdividiu em Chapéus Vermelhos e Chapéus Amarelos, principalmente. E na China temos o Budismo Ch'an, que se tornou o Zen Budismo japonês. E, com o acréscimo de rituais, sacerdotes e lendas, o budismo virou religião! Mas todos seguem a mesma idéia principal: os ensinamentos de Gautama, o Buda. A sua
FILOSOFIA.
É o mesmo com os Cristãos: todas as correntes cristãs dizem seguir os ensinamentos de Cristo, sua FILOSOFIA, mas existem muitas religiões diferentes: os Católicos Apostólicos Romanos, os Pentecostais, os Luteranos, os Evangélicos, etc.. E dentro destes existem muitos outros ramos, cada qual com seus ritos, crenças e interpretações. Nada impede que um oriental estude a filosofia cristã, sem entrar em seus aspectos religiosos. Por que não se poderia estudar a filosofia oriental sem entrar em religião?
Conheci um rapaz na faculdade que praticava Kung Fu Shaolin. Conversando uma vez num barzinho próximo ao campus, com ele e outros colegas praticantes, tocamos no assunto "filosofia oriental". Nunca vou esquecer a sua reação. Começou a falar que nunca havia estudado isso e nem pretendia, que achava um absurdo estudarem esse tipo de coisa, etc... Interpelado por nós sobre o porquê dessa opinião tão radical, ele disse em altos brados que era Católico e que a filosofia oriental se chocava com o cristianismo e que a verdade era: se não assistíssemos a missa aos domingos, iríamos para o inferno. E deu um soco na mesa que daria para matar um rinoceronte! Se esse rapaz estudasse um pouco mais a FILOSOFIA CRISTÃ, talvez se controlasse melhor e tivesse uma mente mais aberta.
AFINAL...
Depois do que foi dito, você já deve ter uma outra opinião sobre o estudo da filosofia oriental. Na verdade, todas as artes marciais e culturas orientais estão profundamente embebidas nessas filosofias. Você pode perfeitamente praticar uma arte marcial e estudar a sua filosofia de origem sem qualquer tipo de comprometimento religioso. Na verdade, você vai encontrar diversos paralelos entre estes ensinamentos e os de sua religião, não importa qual seja. Agora, se você realmente quer distância da cultura oriental, então pratique outra modalidade, como a luta Greco-Romana, Boxe, Esgrima, Arquearia, Dardo (era uma arma grega, sabia?), ou outra modalidade marcial ocidental, pois não se pode praticar uma arte marcial do Oriente ignorando a cultura oriental. Mas nunca se esqueça: para ser um "amigo da sabedoria", deve-se ter a mente sempre aberta.
Depois do que foi dito, você já deve ter uma outra opinião sobre o estudo da filosofia oriental. Na verdade, todas as artes marciais e culturas orientais estão profundamente embebidas nessas filosofias. Você pode perfeitamente praticar uma arte marcial e estudar a sua filosofia de origem sem qualquer tipo de comprometimento religioso. Na verdade, você vai encontrar diversos paralelos entre estes ensinamentos e os de sua religião, não importa qual seja. Agora, se você realmente quer distância da cultura oriental, então pratique outra modalidade, como a luta Greco-Romana, Boxe, Esgrima, Arquearia, Dardo (era uma arma grega, sabia?), ou outra modalidade marcial ocidental, pois não se pode praticar uma arte marcial do Oriente ignorando a cultura oriental. Mas nunca se esqueça: para ser um "amigo da sabedoria", deve-se ter a mente sempre aberta.
Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Escritor. Estuda cultura e filosofia oriental desde 1977, tendo mais de 200 artigos publicados. Como Taoísta, estuda e divulga essa filosofia e suas artes em artigos e cursos para que todas as pessoas possam usufruir de seus benefícios.www.taoismo.orgwww.longevidade.net
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