"Sempre ouvi dizer que, a primeira coisa que deveríamos procurar no Karatê é a “humildade” - e há algum tempo atrás ouvi isso de um, pai de um aluno e ex-karateca.E refletindo sobre o que penso hoje sobre esse assunto, vi que o Karatê deu-me noção das minhas fraquezas.
Atualmente procuro ser modesto, mas não acho que já sirva de exemplo para alguém, vejo que apenas pisei em um degrau inferior de uma grande escadaria.
Embora eu já não tenha grandes vaidades ou ânsias de poder, não faça esforços para ser um ídolo, nem reconhecido por nada, isso não quer dizer que eu me auto-deprecie e não queira ser respeitado, prestigiado ou reconhecido, porque também procuro não esquecer a reverência e o prestigio que devo àqueles que me ensinaram qualquer coisa na vida, mas não tenho isso como uma obrigação e sim como um reconhecimento do que eles fizeram pelo meu desenvolvimento na nobre arte do Karatê e na vida, até mesmo sem perceberem.
Atualmente, depois de quase 40 anos de prática, tenho minhas próprias interpretações desta arte marcial, mas continuo sendo um reflexo dos ensinamentos e dos exemplos dos meus professores e daqueles professores deles.
Reconheço e acredito no meu valor, porque sei que foi também através da minha vontade e do meu esforço que desenvolvi em mim mesmo esses ensinamentos, mas também jamais esqueço que sem eles eu nada seria e assim reverencio, respeito e lhes sou sinceramente agradecido.
Sempre procurei ter uma dignidade, até próxima do orgulho próprio, mas, apesar de qualquer coisa, procuro não guardar nenhum ressentimento, mesmo que às vezes me pareça que alguém quer atrapalhar meu crescimento ou desenvolvimento, seja por inveja ou por ambição. Por isso julgo que é sempre bom saber que não somos inferiores a ninguém, tendo a noção do que somos e de onde viemos.
Aprendi com o meu primeiro professor, que ter humildade não significa ser servil, nem é fraqueza. Podemos ser humildes sem nos depreciar nem desconhecer os nossos próprios valores, desenvolvendo constantemente essa consciência e essa convicção do que somos, das nossas capacidades, da nossa força e até das nossas fraquezas. Nesse aspecto ser humilde, nada mais é do que respeitar aos nossos semelhantes e reconhecer a nossa pequenez diante do universo.
Embora hoje esteja com mais de meio século de existência, sinto que ainda estou progredindo lentamente em autoconhecimento, e acho que o caminho não é outro senão o da reflexão, da meditação e da vigilância interior.
Esse é o objetivo: Conhecer nossas emoções e nossos instintos naturais. Esses são os nossos maiores adversários, contra os quais temos que sempre estar vigilantes.
Por outro lado, quando está ao meu alcance procuro usar a caridade, a misericórdia, o amor, a verdade e a compaixão, sempre tendo noção de até onde posso ir, sem interferir e sem intrometer-me na vida de ninguém e sem que isso se torne uma obrigação que escraviza, mas tento ser útil e amar ao meu semelhante. Acho que esse sentimento me aproxima da felicidade, me traz paz à minha consciência.
Tento sempre reconhecer meus limites e não sofro com isso porque sempre me esforço e trabalho apenas para ser melhor do que eu mesmo e ultrapassar a somente a mim mesmo.Descobri que a virtude está na minha mente e não preciso provar nada o que sou para ninguém, além de mim mesmo. Apenas procuro ser eu mesmo. As pessoas sempre verão isso em algum momento. Luto apenas para afastar o orgulho, a vaidade, a prepotência e o egoísmo. Sei que raras são as pessoas que nascem com essas virtudes naturais e, eu sou um dos muitos que têm que trabalhar para adquiri-las e mantê-las.
E porque faço ou procuro isso? Apenas para que, conhecedor do que realmente sou, produza em mim mesmo a alegria, a paz e a serenidade. Afinal... o que busco é a paz e o que se leva desta vida?
Esses foram os exemplos que me legaram alguns dos meus professores aos quais expresso a minha mais profunda gratidão, mesmo que tenha sido apenas em uma aula, uma conversa, um aperto de mão... Mesmo assim penso que, se eu tivesse atingido a humildade real… talvez eu nem tivesse escrito isto tudo!
Autor: Cesar A. Estivales
Nenhum comentário:
Postar um comentário