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quarta-feira, janeiro 23, 2008

BUDÔ E ESPORTE

No Karatê, não sou contra o esporte, mas sou contra “somente” ao esporte.
Mestre Nakayama disse, que o esporte é um "mal necessário" à divulgação do Karatê. Entretanto temos que lutar é para que todos percebam a diferença entre o Karatê Arte Marcial e o Karatê Competição, seja ele nas entidades que perseguem o Budô ou nas que buscam o esporte e separar uma coisa da outra para que sigam paralelas levadas adiante por seus simpatizantes.
Os sensei são os únicos responsáveis pela formação dos alunos e por não deixar que se percam as raízes do Budô nas quais o Karatê se formou, mas normalmente quem pratica apenas o Karatê Esporte, tem a tendência a se tornar um tanto indiferente à etiqueta (Reigi) que existe no Karatê, bem como quem procura o Karatê Budô, relega a um segundo plano o esporte que existe paralelo ao Karatê.Penso que o Karatê é tudo isso esporte, arte marcial, defesa, filosofia e muito mais... Entretanto, alguns só querem ver por um lado da moeda... o lado que lhe convém, ou o lado que mais se identifica, fazendo assim, um Karatê capenga.
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KUMITE
O Karate está formado indissoluvelmente pelos três "K"; Kihon, Kata e Kumite. Estes formam uma roda que está em continuo movimento, passando do Kihon ao Kata e deste ao Kumite, isto é enquanto o ensinamento se realiza circularmente ou corretamente.

Atualmente há uma certa tendência para o ensinamento linear, onde pode-se prescindir parcial ou totalmente de uma das partes, ou treinar as três porém podendo dar maior ênfase a uma delas. No caso, isto pode acontecer quando se dá prioridade à competição devido ao auge do Karatê desportivo, o que leva a treinar mais o Shiai Kumite, em detrimento do Karate tradicional.
Aqui trataremos de uma parte específica das três mencionadas, o Kumite, que é o método de treinamento das técnicas de defesa e ataque estudadas nos Kata.
O Kumite, literalmente "duelo de mãos" ou "assalto", representa a parte mais espetacular e talvez mais conhecida do Karatê. A palavra em si não representa um enfrentamento até a morte, como finalidade, mas um !encontro! onde o oponente é um adversário e não um inimigo.

Há três formas de Kumite claramente diferenciadas:

1. Desportivo (Shiai Kumite).
É um duelo sem ser, é uma simulação de luta, é uma degeneração do Karatê original, porém necessária, até certo ponto para estudar características como a distancia, a concentração, a rapidez, etc. Mesmo que não sirva para estudar as reações finais, pois na luta real o instinto se impõe à força e inclusive à técnica e naturalmente uma competição de caráter desportivo não gera os mesmos instintos.

O primeiro campeonato de Kumite e Kata foi organizado pelo mestre Nakayama em 20 de outubro de 1957, um fato relativamente recente, posto que tivesse que esperar o falecimento do mestre Funakoshi que sempre foi totalmente contrario ao Kumite. Posteriormente Nakayama compreendeu do por que da postura de seu mestre e começou a preocupar-se com as repercussões que poderia advir desse tipo de campeonatos. Preocupava-lhe que se poderiam perder muitas das variadas técnicas do Karate pelo afã de marcar pontos, e também algo muito pior, como o fato de começarem a surgir outros tipos de competições de caráter mais violento, o que viria em claro prejuízo da Arte Marcial, contrário ao que os mestres contemporâneos quiseram adotar no sentido espiritual do "Do". Desgraçadamente os temores de Nakayama não eram infundados e o primeiro deles já é uma realidade, o segundo está começando, passo à passo.

2. Tradicional
O Kumite tradicional é mais uma busca do caminho "Do", que se estuda como realização pessoal. É um combate entre dois ou mais Karatekas, é muito mais consciente que o Shiai Kumite, porém menos que o marcial.
O treinamento do Kumite necessita de uma evolução em seu estudo, qualquer das três formas passa pelas mesmas fases de trabalho e de compreensão do que se está fazendo, não esqueçamos que é da compreensão que nasce a maestria.

O estudo do Kumite tradicional está formado por quatro fases, que são:
1. No-Sen: Defesa e contra-ataque.
2. Sen-No-Sen: Um contra-ataque simultâneo ou tomar a iniciativa (Tai-No-Sen e Yo-No-Sen)
3. Iro-No-Sen: Se realiza o contra-ataque quando a intenção de ataque do oponente tenha sido formulada.
4. Kokoro-No-Sen: Não há decisão perceptível nem em um e nem em outro lutador. É impossível o ataque e a concentração é máxima.

O trabalho a realizar no Kumite tradicional passa também por várias fases de aprendizagem e treinamento.

O primeiro e muito importante é o Ippon Kumite, se realiza sobre um só passo, Tori ataca a Uke e este se defende e contra-ataca com uma técnica considerada decisiva (Shimei), esta tem que ser mortal ou deixar o oponente nocauteado.
A partir deste se realiza o Gohon Ippon Kumite, Kumite com cinco passos e Jion Ippon Kumite, com dez passos. Neste os passos são independentes, cada ataque é independente dos outros. Uke bloqueia os primeiros ataques e contra-ataca no último, se estuda a posição, a estabilidade, a potência, etc.
A fase seguinte é o estudo do Sambon Kumite, com três passos ou três ataques. O estudo aqui é diferente dos outros, troca o ritmo. Uke tem que adaptar-se a Tori, este ataca uma vez, Uke defende porém Tori não deixa que se repita a defesa e ataca outra vez muito rápido, tentando desequilibrar Uke que retrocede muito rápido e contra-ataca. O ritmo é semelhante ao da linha central do Kata Heian Shodan, primeiro 1 de logo 2 e 3 seguidos.
A terceira fase é o Jyu Ippon Kumite, é como o Ippon Kumite porém livre, sem conhecimento prévio da técnica de ataque nem em que parte do corpo será dirigida. Cada contendor realiza um ataque por vez. Esta forma de treinamento se aproxima muito ao combate livre o Jyu Kumite.
A partir daqui as formas de trabalho implicam um nível alto de conhecimentos técnicos, estas formas são o Happo Kumite, que se pratica contra vários adversários. Estes se colocam em volta de Uke, em círculo, atacam por turnos e podem anunciar ou não o nível e a técnica de ataque.
O Kaeshi Ippon Kumite, Tori ataca, Uke defende ou esquiva e contra-ataca porém Tori não bloqueia e contra-ataca com uma ação decisiva.
O Okuri Jyu Ippon Kumite, se no Ippon Kumite consideramos que o contra-ataque é decisivo, aqui não. Portanto Tori ataca, Uke defende e contra-ataca como no Ippon Kumite, porém ao considerar o contra-ataque como não decisivo, há um instante de pausa, Tori encaixa o contra-ataque e toma a iniciativa sem anunciar a técnica, é livre. É muito importante manter a concentração.
E como estudo e objetivo final o Jyu Kumite ou combate livre, aqui podemos dizer que vale tudo, desde técnicas de todo tipo tanto de braços como de pernas, até luxações, projeções, estrangulamentos, etc. Em resumo, derrotar ao adversário e o que é mais importante superar a nós mesmos é o autêntico e última finalidade do Karatê.

3. Marcial
É o verdadeiro Karatê, não há assaltos nem regras entre os lutadores, é vida ou morte, os implicados são inimigos e não há um número limitado de participantes, é por isso que nos Kata são executadas técnicas contra muitos inimigos imaginários. Se desenvolve o instinto de conservação, a visão periférica, em uma palavra, a sobrevivência. Temos que ter em conta que é o Karatê original,que surgiu da necessidade de defender-se em uma época que as guerras, os saques e os assaltos era mais que habituais.
Afortunadamente hoje em dia, salvo raras exceções, não nos vemos expostos a estes perigos, por isso sua prática na sociedade atual não tem muito sentido.

Um comentário:

Alberto Azevedo disse...

Saudações pela iniciativa de disponibilizar mais um canal de comunicação com todos aqueles que buscam aprender mais sobre o Karate, trazendo a náo conhecimentos preciosos. OSS